"Prefiro a música porque ela ouve o meu silêncio e ainda o traduz, sem que eu precise me explicar".
Li há poucos dias a frase acima cujo autor não consegui identificar, e concordei de imediato. A música fala por nós de uma maneira plena e objetiva.
Impossível existir alguém que não tenha sido marcado na mente e na alma, por uma música.
Todos temos nossa trilha sonora da vida!
Eu por exemplo tenho várias que me trazem desde belas lembranças, até momentos de medo, ou ainda de muita gargalhada e descontração.
Em minha memória afetiva carrego muita MPB, bossa nova, baladas, boleros, rock and roll, etc, mas nunca fui muito chegada no gênero musical sertanejo. Claro que sempre há uma ou outra música que aprecio e chego a cantarolar, mas com certeza não é o meu estilo preferido.
Há pouco liguei a TV e uma dupla sertaneja cantava um sucesso do início dos anos 2000. Impossível não sorrir e lembrar de um fato insólito que vivenciei e que me fez cantarolar essa música.
Estávamos numa cidade no interior de SP onde ocorreria ao final daquele dia, um baile de formatura.
Devidamente hospedadas num hotel no centro e bem próximo ao local das festividades, não nos preocupamos em ver número de táxi (ainda não havia sistema uber e similares) para o retorno que seria durante a madrugada e muito menos anotar o telefone do hotel.
No horário marcado para o início do baile dirigimo-nos ao clube caminhando calmamente. Afinal eram poucas quadras de distância.
A festa estava muito animada, com os formandos, amigos e familiares festejando o final de uma jornada de anos de estudos e o próximo início da vida profissional.
Por volta das 3 horas resolvemos retornar ao hotel pois o cansaço e sono já haviam chegado fortemente.
Surpresa!!!!!
A porta de acesso ao hotel estava fechada, muito bem fechada até com cadeados. Olhando pelo vidro da porta não divisávamos ninguém na portaria que se encontrava totalmente âs escuras.
Nunca soube até aquele momento de um hotel que fechasse as portas e não ficasse ninguém responsável por atender clientes já hospedados no local e que chegassem no meio da noite.
Batemos com força na porta mas o silêncio foi a nossa resposta.
Bem em frente ao hotel havia um jardim com muitos bancos que àquela hora da madrugada estavam absolutamente vazios.
Foi quando o sucesso da dupla Bruno e Marrone bateu em nossas lembranças: Será que teríamos que dormir na praça???
Impossível não cantarolar, entre risadas:
"Seu guarda eu não sou vagabundo
Eu não sou delinquente, sou um cara carente
Eu dormi na praça...."
Continuamos a bater na porta até que vi em um canto da parede uma pequena anotação com o número do telefone do hotel.
Foi a nossa salvação.
Liguei e claro, demorei a ser fui atendida.
Quando já estava desesperançosa e até escolhendo em qual banco terminaria a minha noite, ouvi uma voz sonolenta atendendo o telefonema.
O funcionário ainda custou a entender que queríamos entrar em nossos aposentos e nos olhou com expressão incrédula, tipo assim, de onde vieram estas duas a esta hora da madrugada e com roupas de festa?
Nem nos explicamos porque o sono era grande e já estava quase clareando o dia.
Por muito pouco não pudemos curtir a mesma experiência de Bruno e Marrone e sermos acordadas por um guarda enquanto dormíamos no banco da praça! Encerraríamos com chave de ouro esta grande noitada.
Santos, 31 de maio de 2025
Obs: Para Carolina, lembrando de seu baile de formatura e para Tutu, que quase foi minha companheira de noitada no banco da praça.