quinta-feira, 1 de maio de 2025

DORMINDO COM O INIMIGO

                         
           

         Se você pensou em alguma história de suspense ou terror, errou!

        Nada a ver com assassinos ou fantasmas.

        Foram companheiros de quarto bem incomuns.

        O perigo que poderiam provocar era causarem um grande susto e até uma gritaria em plena madrugada.

        O chalé era muito gracioso e aconchegante. O jardim que o rodeava era bem cuidado, com árvores e flores em quantidade.

        Na janela do quarto uma floreira carregada de gerânios dava um toque especial ao aposento.

        Logo após o pôr do sol ela resolveu fechar as venezianas com receio que algum inseto entrasse voando no aposento.

        Eis que no momento em que fazia isso uma andorinha desavisada e provavelmente com seu GPS desregulado, ao invés de se dirigir para seu ninho em alguma árvore, entrou voando rapidamente dentro do quarto.

        Não havia forro no aposento. O madeiramento do telhado era bem alto, com caibros de aspecto rústico.A ave pousou em um deles e lá se acomodou.

        Aí começou o drama: fazer com que ela saisse novamente pela janela.

        Não surtiram efeitos os barulhos, gestos e lançamentos de objetos na direção da pequena ave.

        Ela fazia acrobacias mil por todo o espaço e às vezes dava até umas rasantes que obrigavam o casal a se abaixar.

        Foi quando ele resolveu jogar o paletó de seu pijama.  A peça subia e caia e a ave continuava impávida, até que...

        Até que o paletó enroscou em um caibro bem alto.

        Aí a situação só se complicou. A andorinha saracoteava pelo quarto enquanto o pijama permanecia pendurado e em uma posição impossível de ser resgatado.

        A estas alturas o sono já dominava o casal que se deu por vencido. Fechou a janela e desistiu de espantar a ave.

        A solução foi se cobrirem até a cabeça para evitarem surpresas em plena madrugada. Adormeceram receosos de acordarem no meio da noite com algum míssil de fezes explodindo bem no rosto.

        Na manhã seguinte acordaram e já se depararam com a avezinha toda lampeira e feliz após ter curtido uma noite diferenciada, revoando pelo espaço aéreo do quarto. Foi só abrir a janela e ela saiu num átimo em busca de seu café da manhã. 

        Ela chegou a ver um sorriso irônico no biquinho da andorinha.

        Em tempo: o paletó do pijama foi posteriormente resgatado.

        Mais recentemente um outro casal também teve uma companhia singular em seu quarto.

        Hospedados em um local bem próximo à natureza, não contavam com um terceiro ser devidamente acomodado no cantinho da parede.

        Na verdade foi visto de soslaio por ela, mas por estar sem óculos considerou que era simplesmente um daqueles objetos que chamamos de peso de porta.

        O tal peso de porta era na verdade um gorducho sapo bem vivo que quietinho aproveitava o aconchego do quarto. 

        Na manhã seguinte foi reconhecido e recebeu a devida carta de despejo do aposento.

        Ainda bem que nos dois casos não houve acidentes e nem gritarias em plena madrugada. 

        Foram companhias bem comportadas.


Santos, 1 de maio de 2025.





sexta-feira, 18 de abril de 2025

CAMINHADA NA SEXTA-FEIRA SANTA

 



            Vamos fazer um passeio de ônibus?

            Recebi este convite irônico nesta Sexta-Feira Santa. Nem precisei responder.

            Por que irônico? Porque partiu de minha irmã que com certeza estava se lembrando, assim com eu já havia feito logo pela manhã, de um desastrado passeio feito neste dia santo, há aproximadamente 6 décadas.

            Vivíamos em Rio Claro no interior paulista e o slogan da administração municipal àquela época estimulava a visita à cidade. 

            Ouvia-se com frequência a frase: Conheça Rio Claro, a cidade que se expande dia a dia.

            Vivia-se um tempo muito diferente dos dias atuais. A Semana Santa era um período onde as diversões e prazeres, principalmente para os cristãos, eram deixados de lado em total respeito ao martírio e morte de Cristo.

            Em nossa casa a televisão e o rádio eram proibidos de serem ligados. Não programávamos passeios, jogos ou qualquer outra diversão que despertasse risos e consequentemente barulhos.

            O respeito pela data sempre foi priorizado e entendíamos isso.

            Em meados dos anos 60 eis que numa tarde de Sexta-Feira Santa o tédio irrompeu-se nas duas irmãs. Os pais dormiam e o irmão mais velho havia saido com amigos.

            Os ponteiros do relógio teimavam em girar demasiadamente lentos e a tarde se arrastava.

            Foi quando uma delas lembrou-se da frase: Conheça Rio Claro, a cidade que se expande dia a dia. 

            De imediato surgiu a ideia de passearmos de ônibus pelas ruas mais distantes de casa e por caminhos desconhecidos e não rotineiros. 

            Sugestão dada e aceita imediatamente.

            Com dinheiro para duas passagens dirigimo-nos até o ponto de õnibus onde havia linhas para vários bairros mais distantes.  Optamos por um que atendia bairros que não conhecíamos, afinal o objetivo era visitar a cidade.

            Acompanhamos curiosas o trajeto feito e que ficava justamente do lado oposto aos caminhos que costumávamos fazer para passeios, para irmos à escola, à igreja, casas de amigos, etc.

            De repente a aventura foi interrompida.

            O motorista parou o ônibus e avisou que ali era o ponto final. Todos teríamos que descer. Quem pretendesse continuar no transporte precisaria pagar nova passagem.

            Não tivemos outra opção a não ser sairmos do ônibus. Estávamos sem dinheiro para pagarmos a volta e o pior, nem sabíamos onde realmente estávamos.

            Resolvemos voltar a pé, única solução viável no momento. 

            Surgiu aí o primeiro fator complicador. Minha orientação espacial sempre foi avariada, para não dizer quase nula, e portanto, não sabia nem para qual lado ficava o centro da cidade. 

            Depois de perguntarmos a alguém e pensarmos um pouco, decidimos o caminho a seguir. 

            Logo após percorridas as primeiras quadras de regresso, eis que o tempo mudou de repente e uma chuva, a princípio leve, mas depois mais forte, começou a cair e assim permaneceu por um bom tempo.

            Quando finalmente avistamos prédios já conhecidos o ânimo voltou e aceleramos os passos.

            Chegamos em casa molhadas dos pés à cabeça e com uma canseira imensa.

            Para evitarmos broncas não contamos sobre o desastrado passeio. Nossos pais vieram a saber disso sómente tempos depois.

            De certa forma conhecemos mais a cidade do que pretendíamos, pois o percurso a pé nos permitiu ver com calma, ruas e avenidas existentes entre a Vila Martins e o inicio do Jardim Floridiana onde estávamos, e o centro da cidade onde morávamos. 

            A caminhada sob chuva de mais de 3 km em plena Sexta-Feira Santa nunca foi esquecida e se depender de mim, também jamais será repetida.


Santos, 18 de abril de 2025 / Sexta-Feira Santa.






segunda-feira, 7 de abril de 2025

TELEVISÃO

 



            Não sei se sou eu que ando exigente demais ou então ranzinza, mas o fato é que os poucos momentos nos quais ligo a TV  em canais abertos ou não, não consigo soltar das mãos o controle remoto. 

          Isto porque em poucos minutos olhando para um canal qualquer já me desinteresso pelo assunto e lá vou eu apertando o botão sem parar, até que vez ou outra algo me prenda a atenção. 

           Como sou cinéfila geralmente acabo optando por um filme apresentado em plataformas de streaming.

            Há pouco liguei o aparelho e a cena me trouxe de imediato a lembrança de meu pai. Vi na tela a figura conhecida de Galvão Bueno. Instintivamente já mudei o canal. Não tenho nada especificamente contra este profissional; apenas me cansei de seus comentários. 

            Tal fato lembrou meu pai pois ele tinha verdadeira antipatia por Galvão. Entretanto, por gostar de assistir futebol pela TV se deparava com um problema já que a maioria dos jogos tinha a apresentação e comentários sob a responsabilidade deste locutor. A solução encontrada pelo sr. Italo, meu pai, foi deixar a TV ligada só com a imagem do jogo e ouvir a transmissão pelo radio.

        Dizia ele que ficava meio conflitante já que o som era num rítmo inflamado, entusiasmado e a imagem na TV trazia cenas bem menos aceleradas. Mesmo assim, segundo ele, valia a pena.

         No meu caso específico fico à procura de filmes interessantes, sejam dramas, comédias ou mesmo documentários. Se na primeira vista já vejo cenas exibindo armas, violência, mortes, etc, já mudo em busca de outro. Já basta a realidade.

            Ultimamente procuro por histórias que me deixem leve, mais esperançosa, que despertem sorrisos ou mesmo algumas lágrimas, mas que tais lágrimas sejam provocadas por momentos onde os bons sentimentos falem mais alto e deem alento. 

            Dentre os filmes que já assisti várias vezes cito dois: 

Cinema Paradiso vi umas três vezes e fiquei emocionada em todas elas. Além da bela história nos traz a música de Ennio Morricone; e Meia Noite em Paris que tem uma apresentação leve, agradável, com belas imagens e fantástica viagem ao passado. 

            Creio que de certa forma o fundo nostálgico que pode ser observado no filme de Woody Allen (Meia Noite em Paris), mostra indiretamente, ou até mesmo diretamente, que o passado foi mais interessante que o presente.

            Porém, e sempre há um porém, atualmente há poucos filmes que ficam em nossas memórias como estes citados acima. A grande maioria visa a comercialização, as bilheterias concorridas, e a chamada sétima arte acaba esquecendo de ser arte.

            Neste contexto todo opto por filmes clássicos, produzidos em décadas passadas, mas que com certeza são atemporais.

            Quanto à TV aberta, raramente me lembro dela.


Santos, 7 de abril de 2025.



domingo, 9 de março de 2025

CONVERSA DE ELEVADOR



            De uns tempos para cá e com frequência maior do que eu desejaria, fico lembrando de um quadro do programa A Praça da Alegria, atualmente chamada A Praça é Nossa, onde a personagem principal era uma senhora idosa e muito surda de nome Bizantina Scatamacchia Pinto.

            A conversa que ela mantinha com Apolônio sempre sentado no banco lendo seu jornal era toda confusa, com muitas trocas de palavras. Devido à surdez ela entendia as falas do amigo completamente trocadas, resultando sempre em frases muito engraçadas.

            Roni Rios interpretava a velha surda e Apolônio era vivido por Viana Junior, que ficava extremamente irritado com as confusões de Bizantina. A cena final mostrava uma interação dela com Manuel da Nóbrega e posteriormente com seu filho Carlos Alberto da Nóbrega. 

            O quadro deixou de ser apresentado após os falecimentos dos dois protagonistas, pois ficou tão marcante que dificilmente outros atores os representariam tão bem.

            E não é que de uns tempos para cá Bizantina frequentemente tem incorporado em mim ou em pessoas próximas causando muita confusão?

            Houve um episódio no qual me senti a própria velha surda.

            Fui agendar consulta médica e ao ser atendida respondi várias questões sobre os dados pessoais para efeito de cadastro. Foi durante a epidemia de Covid e a jovem que me atendia usava uma máscara. Entre nós havia ainda uma placa de plástico transparente.

            Após algumas perguntas eu a ouço indagar:

            - Usa lente de contato?

            Como o exame que eu solicitava na ocasião nada tinha a ver com a visão, antes de responder eu a questionei:

            - Por que você precisa saber se uso lente de contato?

            Ela mal segurando o riso respondeu-me em alto e bom som, quase soletrando:

            - Senhora, eu pedi um telefone de contato!

            Fui a primeira a gargalhar seguida por todos à minha volta que escutaram a conversa.

            Em outra ocasião durante um bate-papo em família falando sobre a atriz Sophia Loren, lembrei-me de seu último filme Rosa e Momo, onde ela aos 86 anos se destacava ainda pela beleza.

            Ato contínuo pronunciei:

            - Ela está inteirona!

            No mesmo instante veio a interrogação de meu irmão:

            - Ela vive em Verona?

            Não precisei responder mesmo porque a risada de todos já demonstrou que a pergunta feita estava totalmente fora do contexto.

            Mais recentemente numa troca de conversas no elevador a Bizantina entrou em ação.

            O equipamento era espaçoso e cabiam até vinte pessoas. 

            Fui uma das últimas a entrar e não tive acesso ao painel dos botões pois uma pessoa bloqueava o caminho. Eu iria ao 5º andar e com o elevador já fechando as portas perguntei rapidamente:

            - O cinco está apertado?

            Imediatamente um idoso que estava atrás de todos dirigiu-se a mim com uma expressão de espanto:

            - Tem que por o cinto?

            Logo na sequência a mulher ao lado dele já questionou querendo saber onde estava o cinto para ela colocar.

            Ainda sem entender a confusão que estava havendo respondi que nunca vira elevador ter cinto de segurança.

            Nesse momento o senhorzinho olhando muito sério para mim e com ares de que estava irritado, deu-me uma bronca:

            - Como nunca viu, se foi a senhora mesma quem falou para por o cinto??

            Tem dias que meu riso é mais frouxo que o normal, mas naquele momento tive que fazer um esforço e me concentrar para não rir pois ele me olhava bem zangado.

            Fui salva pelos demais que ao notarem a troca de cinco por cinto começaram a rir descontraindo o ambiente.

            Para meu azar tal idoso também desceu no 5º andar, dirigiu-se para a mesma sala e ficou sentado próximo a mim. 

            Resultado: o tempo todo tive que olhar para o outro lado e segurar a risada, mas as lágrimas escorriam no rosto. 

            A Bizantina Escatamacchia Pinto saiu do banco da praça, mas vira e mexe ela ressurge em nossas lembranças cantando sua música preferida:

- Ó querida, ó querida, ó queriiiiiiiiida Clementina!!!!


Santos, 09 de março de 2025.





segunda-feira, 3 de março de 2025

AVALIAÇÃO E SEUS DESACERTOS

 


                   
                                          Imagens: Facebook - Grupo Professores Sonhadores


            Há poucos dias vi  uma publicação em rede social de um grupo intitulado Professores Sonhadores cuja legenda era: O aluno mais injustiçado do Brasil.

            Abri o arquivo que estava em forma de reel (vídeo curto) e me surpreendi com o conteúdo. 

          De imediato reportei-me aos tempos de magistério e às experiências bem semelhantes às apresentadas neste reel, cujas imagens estão na abertura deste texto.

            Há duas questões básicas envolvidas no processo avaliatório: o objetivo - o que avaliar e a maneira - como avaliar.

            Há anos já comentei sobre a dificuldade que muitos professores têm no momento de formularem as perguntas nas avaliações. Muitas vezes uma pergunta mal elaborada deixa dúvidas sobre o que realmente se deseja saber.

            No fato citado no reel está óbvio que a criança concluiu assertivamente cada questão apresentada.

            O que deve ter levado o professor a considerá-las erradas foi com certeza ver que as respostas não traziam exatamente as mesmas palavras que ele esperava ler. A interpretação tanto quanto o raciocínio do aluno foram totalmente desconsiderados.

            Até o famoso Calvin, personagem do desenho em quadrinhos criado por Bill Watterson, aproveitou a oportunidade que lhe foi oferecida ao se deparar com a questão formulada por sua professora:

             - O que você sabe sobre os presidentes dos Estados Unidos?

            A resposta bem objetiva do garoto foi:

            - Não sei nada.

            Ele foi absolutamente sincero e correto em sua resposta.

            Outros exemplos similares pude acompanhar na profissão como foi o  caso em que a professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, após ensinar sinônimos e antônimos, pediu na prova:

            - Dê o contrário de: bonito, frio, claro e alto.

            A criança respondeu prontamente: otinob, oirf, oralc e otla.

            A professora não teve outra opção a não ser considerar certa pois o modo como formulara a questão havia dado abertura para este tipo de resposta. Posteriormente explicou melhor a pergunta para a classe toda.

            Atuei como intermediadora em um caso hilário e bizarro durante um desentendimento entre pai de aluno e professor.  Era prova de Ciências e após estudos sobre Higiene e Saúde, apareceu na avaliação a seguinte pergunta:

            - Qual a primeira coisa que você deve fazer após usar o vaso sanitário?

            O professor esperava como única resposta possível: Lavar as mãos.

            Aconteceu porém que era uma 7ª série com alunos em plena adolescência. E não é que um dos garotos respondeu que chacoalhava seu pênis?

          O professor ficou tremendamente irritado e considerou a resposta muito desrespeitosa. Além de colocar um grande X vermelho sobre ela,  humilhou e criticou severamente o aluno diante da classe toda que acabou caindo na gargalhada ao saber a resposta dada.

            Pela idade do aluno e seu histórico brincalhão com certeza a resposta foi proposital, mas independente disso, a maneira como foi feita a questão abriu a possibilidade desta afirmação.

              Em casa o rapaz mostrou a prova ao pai e contou sobre a humilhação. Ato contínuo  este pai foi pedir explicações ao professor, reforçando que a resposta estava certa.

            Foi complicado chegar-se a um consenso e tive muita dificuldade em segurar o riso ao me ver naquela insólita situação, onde pai e professor discutiam o que era prioritário: chacoalhar o órgão ou lavar as mãos. O professor acabou por admitir, não sem muito reclamar, que falhou na formulação da frase.  

            A importância sobre o que avaliar deve ter a mesma intensidade e o mesmo cuidado em relação ao como avaliar.

            O objetivo da  prova é um elemento que não pode ser relegado a segundo plano.São relativamente comuns mesmo em concursos públicos questões que nada têm a ver com o real propósito da avaliação. 

            Nunca me esqueço de um fato ocorrido há anos ainda no início de minha carreira, quando um diretor de escola resolveu ele próprio elaborar uma prova para selecionar dentre vários candidatos, qual seria o mais apto para ocupar a função de servente, atual auxiliar de serviços gerais.

            Fez as questões sozinho e aplicou a avaliação. Ao fazer a correção ficou muito chocado (palavra dele) ao verificar que nenhum candidato acertou uma pergunta em especial.

            Entrou na sala dos professores indignado e nos contou o fato. Todos ali presentes ficaram curiosos. Ele então esclareceu que ninguém soube responder quantos quilômetros tinha a ponte Rio-Niterói. 

            A expressão de espanto de todos inclusive a minha, seguida dos olhares disfarçados, foi imediata.

          Nenhum de nós sabia a resposta. Tal ponte havia sido inaugurada há mais de dois anos.

            O rosto da professora de Geografia que estava em pé ao lado do diretor, perdeu a cor no ato. Ficamos todos em silêncio.

         Assim que ele se retirou da sala a risada foi geral, seguida pela busca imediata da resposta, afinal ele poderia voltar e nos questionar.

            Qual a importância de saber a quilometragem de tal ponte para exercer a função de servente escolar numa pequena cidade do interior paulista? Serviria apenas e tão somente para uma análise insignificante da cultura geral de cada um. Com certeza nenhum candidato havia passado por ela e creio que nem tinham a menor intenção de fazê-lo.

             Portanto devemos ter sempre em mente o que é realmente significativo avaliar, bem como, o modo de proceder a este questionamento de tal forma que não deixe dúvidas a quem for submetido a ele.


Santos, 03 de março de 2025. (segunda-feira de carnaval).

Nota: A quem possa interessar: a ponte Rio-Niterói tem 13,29 km de extensão e foi inaugurada em 1974. Seu vão central tem 300 m de comprimento e 72 m de altura.


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

CARNAVAIS D'ANTANHO



        

        
        Já não gosto de carnaval com a mesma intensidade que gostei na infância e juventude. Muitos que já viveram seis ou mais décadas também não o apreciam tanto.
        Ouvindo a mídia falar sobre esta festa popular, vendo fantasias expostas nas lojas e escutando músicas carnavalescas, o baú das boas lembranças se abre e um verdadeiro desfile de fatos vêm em minha mente.
        A recordação mais antiga que tenho é uma fantasia de holandesa que usei em um carnaval nos meus 4 ou 5 anos. O chapéu típico não parava em minha cabeça.
        Os pensamentos seguintes já trazem a figura de meu avô paterno, Adolpho.            Ele frequentava o Grupo Ginástico Rio-clarense, clube social da cidade.
        Nas matinês de carnaval levava os netos mais velhos para brincarem no salão que ainda funcionava na esquina da avenida 3 com rua 2.
        Também nos comprava os inesquecíveis tubos dourados de lança-perfumes juntamente com pacotes de confete e os rolinhos de serpentina. 
        Infelizmente o mau uso do lança-perfume por parte dos adultos, acabou provocando seu banimento.
        Avô Adolpho não entrava no salão e de longe ficava observando nossa alegria. Soube anos mais tarde que ele gostava muito dos bailes quando era solteiro, mas depois do casamento nunca mais foi. No carnaval divertia-se vendo a alegria dos netos.
        À noite havia o chamado corso que era o desfile de carros alegóricos e das escolas de samba.  
        Nessas ocasiôes eram meus pais que entravam em cena, nos levando para assistir.
        Minha mãe, caprichosa que era, costurava sacolinha de tule para mim e meu irmão colocarmos confetes e serpentinas e jogarmos durante o corso. E lá íamos nós empolgados e carregando a tal sacolinha cheia.
        O desfile era na região central da cidade e costumávamos ficar na esquina da rua 3 com avenida 1. Isso era bom para nós crianças pois havia neste local uma casa com jardim e uma muretinha com gradil. Ficávamos em pé nesta muretinha e assim tínhamos uma visão plena do desfile.
        Particularmente o que mais me atraia a atenção eram os carros alegóricos dos clubes, sempre muito iluminados, enfeitados, com moças bonitas fantasiadas e músicas bem alegres.
        Voltávamos para casa com a sacolinha de tule vazia, mas com o coração repleto de alegria.
        Havia próximo de casa uma loja que alugava vestidos de noiva e aí morava uma amiga, Lucinda, sobrinha dos proprietários. Nesta época de carnaval a loja confeccionava adereços para as escolas de samba.
        Eu, já na pré-adolescência, fui muitas vezes ajudar neste trabalho que na verdade para mim era muito prazeroso. Montávamos os chapéus com enfeites, as coroas, colares, etc.
        Certa ocasião a dona da loja, dona Rizolina, ao saber que eu não iria nas matinês naquele ano por problemas familiares, fez às pressas uma fantasia para que eu pudesse acompanhar sua sobrinha. Lá fomos nós, Lucinda de Rainha da Lua e eu de Colombina. Nos levaram até a um estúdio fotográfico para registrar esse momento. Acho que dona Rizolina nunca soube o quanto fez minha mãe feliz com este gesto.
        Com o tempo isso foi se perdendo, assim como as idas nas matinês e a companhia dos pais para ver o corso carnavalesco. 
        Como é imperativo à vida, vieram as mudanças nesta festa e em nós mesmos.
        As antigas marchinhas deram lugar a diferentes rítmos de acordo com a preferência dos jovens de hoje; o carnaval de rua sofisticou-se e hoje é um verdadeiro show de riqueza e cores, mas que de certa forma afastou o povo pois tudo isso tem um custo que boa parte da população não pode assumir.
        Ainda restam os alegres blocos formados pelos bairros, por clubes ou entidades, que dão voz e vez a todos.
        Apesar de eu não ter mais grande atração pelo carnaval, as marchinhas antigas, ah...essas sim, estão guardadas para sempre na memória e cantaroladas nestes dias de festas carnavalescas.
        Bom carnaval ou bom descanso a todos!


Santos, 28 de fevereiro de 2025 (sexta-feira de carnaval)
 




sábado, 22 de fevereiro de 2025

Cada música, uma lembrança

    



       Tenho o hábito de aproveitar o tempo livre ouvindo música. Fico quieta no quarto curtindo minhas músicas preferidas, acompanhando passo a passo as letras e muitas vezes cantarolando junto.

    Fiz uma extensa playlist no Spotify com músicas de minha preferência, nacionais ou estrangeiras e sem nenhuma preocupação cronológica.

    Recentemente dei-me conta que cada composição traz de imediato ao ouvir os primeiros acordes, uma lembrança específica que vivi ou presenciei, representando momentos felizes e outros nem tanto.

    Resolvi então traçar este paralelo entre as músicas e minha trajetória de vida.

1. Que será será - Doris Day. Não há como não lembrar de minha mãe que assistiu ao filme com este tema musical nos anos 50 e sempre comentava sobre a história. Passei a ser fã da obra mesmo porque a melodia é muito cativante e me transporta diretamente para a infância.

2. Moon River - Audrey Hepburn - No filme Bonequinha de Luxo a cena na qual a atriz canta sentada na janela de seu apartamento, ao som de seu violão, me encantou desde sempre. Já o assisti umas três vezes.

3. Cinema Paradiso - tema do filme de mesmo nome com orquestra de Enio Morricone. A melodia linda me transporta para outras épocas. Lembro de uma maquininha comprada por meu pai onde ele colocava carretéis com desenhos sequenciais e ao virar uma manivela tais desenhos passavam a ter movimentos. Era o nosso cineminha infantil. Chegamos a projetar estes filminhos em um muro branco que havia em uma residência na avenida 10 entre ruas 2 e 3. A criançada da região se reuniu ali para assistir, sentada na calçada mesmo. 

4. Luiza - Tom Jobim. Impossível ouvir esta música sem ficar visualizando mentalmente a Luíza de minha família, com toda sua graça, juventude e beleza.

5. New York, New York - Frank Sinatra. Esta canção e sua interpretação na voz de Sinatra, dispensam qualquer comentário. A primeira imagem que me vem à mente é do Prof. Paulo Landim falecido recentemente. Ele dublou-a no palco de uma escola durante apresentações feitas em um período de greve de quase todo o funcionalismo público estadual.  Estava caracterizado como o próprio Sinatra e foi imensamente aplaudido.

6. Hey Jude - Paul McCartney. Novamente minha mãe entra em meus pensamentos. Sempre gostei muito dessa melodia e a ouvia com frequência, mas tinha que ouví-la baixinho pois minha mãe sentia angústia ao escutá-la. Dizia que era uma música sem fim, que nunca terminava.

7. Summertime - Ella Fitzgerald, Louis Armstrong. Outra delícia de ouvir. Apesar de seu ritmo lento, ela me traz na memória uma cena de desenho animado da TV. É quando o Pica Pau se veste de mulher e para provocar o leão marinho faz uma dança sensual ao som de Summertime.

8. Besame Mucho - Orquestra de Ray Conniff. Ouvi-a pela primeira vez na casa de uma amiga do antigo curso primário, Luíza Cristina Camargo. Fiquei maravilhada com o som e com o ritmo. Era um disco Long Play, que chamávamos na época de LP, que eu ainda não conhecia.

9. Céu de Santo Amaro - Caetano Veloso e Flavio Venturini. Que delícia ouvir esta obra. A melodia de Bach depois de 200 anos se encaixou perfeitamente na letra composta por Venturini. Ouvindo-a me transporto ao céu de Rio Claro, minha cidade natal. À noite durante a infância, com menos iluminação que atualmente, ainda podia se ver as milhares de estrelas cintilando e durante o dia o azul  dominava e ainda domina o firmamento.

10. Carta ao Tom 74 - Vinícius de Moraes e Toquinho. A suavidade das letras de Vinícius são verdadeiros poemas. Ouço e me coloco no lugar do cantor sentindo toda a nostalgia que ele cita pois inevitavelmente as mudanças chegam levando embora pedaços de nossa história.

11. Autumn Leaves - Eric Clapton. Essa melodia também gosto muito na voz de Nat King Cole. O outono soa como despedida, mas que valoriza ainda cada momento presente. Usei-a como fundo musical numa crônica escrita por Rubem Alves, O Amor Não Envelhece.

12. Deixa a Vida me Levar - Zeca Pagodinho. Descontração sempre é bem-vinda. Essa alegre música me traz de imediato o nome de Carolina, que nos seus vinte e poucos anos cantarolava feliz essa música que nos deixa mais leves diante da realidade da vida.

13. Fortissimo - Rita Pavone. As músicas italianas sempre estiveram em minhas preferências, principalmente as românticas dos anos 60. Essa em especial me lembra na verdade outra gravada por Rita, a Datemi un Martello. No ano de 1964 a cantora se apresentou no Brasil pela primeira vez e entre outras músicas, cantou alegremente a Datemi un Martello. No dia seguinte ao da transmissão do show na televisão, ouvi a conversa entre um vizinho, sr. Euclides, e meus pais. Estavam chocados com o tipo de música e a maneira como ela estava vestida. Eu nos meus 12 anos vibrei com a apresentação dela, mas nem me atrevi a demonstrar isso, afinal naqueles tempos criança não entrava em conversa de adultos.

14. Je t'aime Ma Non Plus - Anthony Ventura. Essa música lançada em 1969 estourou no mundo todo. Era super moderna para a época e aqui no Brasil, em plena ditadura militar, assim que o sucesso se espalhou o governo a censurou e ela foi proibida de tocar na mídia toda.  Estávamos no último ano do Ensino Médio, Curso de Magistério, e no intervalo das aulas o Grêmio Estudantil (entidade que representava o corpo discente) que era presidido por um aluno (Luiz Carlos), colocava músicas para alegrar o ambiente escolar. Num certo dia estávamos na sala do Grêmio quando o presidente colocou para tocar justamente Je t'aime, que àquela altura já estava proibida. Lembro-me da diretora da escola vir correndo e entrar desesperada na sala gritando com o rapaz para que parasse a música. O medo das represálias por parte do governo era imenso.

    Enquanto escrevo estas palavras o Spotify está tocando a playlist. 

    Citei apenas uma pequeníssima parte da relação.

    A playlist completa totaliza 8h de músicas que contam, cada uma à sua moda, um pouquinho de minha história.

    Creio que todos nós revivemos momentos marcantes de nossa trajetória ouvindo as músicas de ontem, de hoje e de sempre, pois músicas de qualidade são atemporais.


Santos, 22 de fevereiro de 2025.

 


sábado, 8 de fevereiro de 2025

NÓS E O TEMPO





            Ouvindo a música Carta ao Tom onde Vinícius de Moraes evoca com nostalgia tempos felizes que vivera no Rio de Janeiro, dei-me conta de como o elemento tempo está continuamente nos acompanhando e quase sempre carregado de saudade e melancolia.

            O tempo é contraditório. Ele pode ser um fator que estimula ou desalenta, que alegra ou entristece, que consola ou aflige, mas quer queiramos ou não mexe conosco constantemente. 

          No início da vida queremos rapidez e desejamos que ele passe depressa, mas já na fase adulta nos sentimos atropelados e queremos freá-lo.

          Seja qual for o efeito dele sobre nós em diferentes momentos, é interessante observar que à medida que avançamos nos anos de vida, olhamos cada vez mais para trás  buscando aqueles tempos que nos abrem os baús das memórias afetivas trazendo as melhores e doces lembranças.

        Para mim e creio que para muitos a música é justamente uma das chaves que abre de imediato este baú tão rico e valioso por preservar nossa história de vida.

        O tempo não pára como já cantou Cazuza e tantos outros antes dele.

        É significativo o número de letras musicadas com este tema central.

        Adoniran Barbosa com seu jeito irreverente já cantou Envelhecer é uma Arte, assim como Fábio Jr canta Meus Vinte e Poucos Anos, Arnaldo Antunes com Envelhecer e  Não Vou me Adaptar, Aldir Blanc com Resposta ao Tempo maravilhosamente gravada por Nana Caymmi, Oração ao Tempo de Caetano Veloso, e tantas outras.

     Não há como negar que são letras muito inspiradas que cantam e nos encantam nas vozes dos artistas.

        As letras nos falam de momentos passados que o próprio tempo não consegue apagar.

        Em face da situação atual na qual caminha a humanidade encerro aqui com a prece de Vinícius em sua Carta ao Tom:

"É preciso acabar com essa tristeza, 

 É preciso inventar de novo o amor".


Santos, 08 de fevereiro de 2025.


 



sábado, 4 de janeiro de 2025

ZICA, URUCUBACA OU PURA DESATENÇÃO!




       Creio que todos nós já tivemos dias nos quais acontecem tantas coisas erradas que chegamos a desejar nem termos saido da cama pela manhã.

        O ano que se findou recentemente logo em seus primeiros dias já demonstrou que adversidades viriam ao longo dele. 

        Bem no início de janeiro o carro em que ela  estava descendo a Serra do Mar simplesmente "apagou" dando tempo somente para que sua motorista o conduzisse ao acostamento, aproveitando o embalo do veículo no declínio da estrada. 

        Contatos feitos com a seguradora deixavam claro que haveria dificuldade em se encontrar guinchos disponíveis.

      Dito e feito: ela e a motorista ficaram 6 horas presas dentro do veículo aguardando o guincho e o táxi que as levaria em segurança para a casa.

        Era um prenúncio de uma série de ziquiziras que, graças a Deus sem grandes consequências, ocorreriam ao longo de 2024.

       Na verdade apesar de algumas desventuras, este ano que terminou trouxe também momentos muito bons como o recebimento de visitas importantes vindas de além mar e de Rio Claro também, assim como novas amizades chegaram.

        E não é que até nos últimos dias já no mês de dezembro a zica, ou mesmo a pura desatenção, se manifestou novamente e em grande estilo?

        Hóspede em casa de familiar e na ausência dele (ainda bem) ela preparou-se psicologicamente para obter uma xícara de café na máquina elétrica. Convém esclarecer que ela é do tempo ainda da Mellita e do café coado.

        Postou-se diante do aparelho e lembrando as orientações recebidas sobre como usá-lo, providenciou uma caneca não muito pequena.  

        Como pretendia tomar café com leite teve a "brilhante" ideia de já colocar o tal leite nesta caneca, assim o café sairia e cairia direto sobre ele.

        No momento em que apoiou a vasilha na máquina e colocou a cápsula de café no devido espaço, observou que havia pouca água no reservatório do aparelho.

        Retirou então a caneca com leite do local, a colocou no alto do micro-ondas que se encontrava logo à esquerda e providenciou a água necessária.

        Na sequência e já se considerando uma expert no manuseio do material, ligou triunfante a cafeteira elétrica.

        Nos primeiros bruuuummm que a máquina fez, viu assustada que não havia recolocado a caneca no local para receber o café que estava prestes a cair.

        Pegou rapidamente a vasilha que estava sobre o micro-ondas.  

        Na pressa ela esqueceu que havia leite dentro da caneca que ao ser tombada derramou a totalidade do líquido sobre sua cabeça fazendo-o escorrer desde seus cabelos, passando pelo corpo e chegando aos seus pés, provocando uma sujeira considerável.

        É importante esclarecer que não desperdiçou o café pois ele caiu direitinho sobre a caneca vazia.

            Os primeiros pensamentos já às gargalhadas foram: 

            - Será que tem câmera escondida aqui?  

            - Será que leite faz bem aos olhos? Havia gotas de leite até nos cílios.

           O difícil foi fazer a limpeza do balcão, da cafeteira e do chão principalmente.

       Após tudo limpo (ao menos ela pensava assim), roupa lavada e banho tomado, finalmente pôde apreciar o café que a estas alturas já estava frio. O jeito foi esquentá-lo novamente e claro, acrescentar leite.

            Na chegada do proprietário ficou como se diz pianinho sobre o acontecido.

      Para sua surpresa entretanto, ele sentiu algo estranho no ambiente e perguntou se havia acontecido alguma explosão na cozinha. 

           Muito perspicaz observou na geladeira na parte de baixo da porta, manchas com cheiro de leite estragado.

        Ela não havia observado que o líquido tinha espirrado até na geladeira que estava em suas costas.  O jeito foi contar o sucedido.

        Ainda bem que não precisou ficar sentada no banquinho de castigo pensando na "trapaiada" que fizera.

        Para arrematar a fase de zica de 2024, após almoçar em um restaurante notou que sua comanda simplesmente havia sumido sem deixar rastros.

        Não teve outra alternativa a não ser apresentar no caixa duas opções: pagar quanto lhe fosse pedido, ou então, ir para a cozinha lavar os pratos.

        Felizmente o rapaz do caixa foi gentil e deve ter considerado a situação de freguesa prioritária devido à idade, cobrando um valor bem sensato.

            Agora neste novo ano espera que a urucubaca desapareça.


Santos, 4 de janeiro de 2025.


Obs: Ao Luís Fernando com os agradecimentos pela hospedagem e claro, com as minhas devidas desculpas pelas "trapaiadas".






quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

ESCRÚPULOS - PARA QUÊ?

                 


                                            https://pt.linkedin.com


                Há dias ando sentido necessidade de escrever algum conto ou crônica leve, para descontrair, para suavizar o dia, para despertar sorrisos.

                Entretanto tenho tido dificuldade em redigir tais temas diante de tantos fatos desagradáveis que a mídia nos mostra diariamente.

           São abusos gritantes de autoridades, são golpes perpetrados para beneficiar alguns em detrimento de muitos, são denúncias que chocam pela ousadia e por aí afora.

                    Mesmo sem querer acabo lembrando-me de uma propaganda antiga de cigarro feita pelo ex-jogador da seleção de futebol brasileira, Gérson, onde ele encerra sua fala dizendo que: "gosto de levar vantagem em tudo". 

                Este fato acabou ficando conhecido como a Lei de Gérson e teve uma péssima repercussão, sendo associado a comportamentos desonestos e moralmente questionáveis do ponto de vista ético.

            Infelizmente sabemos que há muitos seguidores desta "lei" e que se beneficiam dela usando e abusando do tal jeitinho brasileiro, que como sabemos na maior parte das vezes, corresponde a atitudes oportunistas e amorais.

                Conheço e com certeza todos nós conhecemos pessoas que podem ser consideradas doutoras nesta arte, e o que é pior, pessoas que sentem orgulho de seus feitos e de suas ditas espertezas, vangloriando-se de benefícios obtidos através do desprezível jeitinho brasileiro.

                Isto parece tão incrustado em nosso país que já não nos causa mais espanto, ao contrário, causa desalento, desânimo e até mesmo nos bloqueia a vontade de criticar, de virar o jogo, e acabamos assistindo passivamente o triunfo da falta de ética em todos os níveis da sociedade.

                Impossível não lembrar uma experiência própria quando discordei e não adotei uma certa atitude que era totalmente contrária às normas. O superior imediato diante de minha postura executou a ordem por mim negada e ainda deu um conselho que me chocou bastante:  "Na vida do dia a dia não se pode ter muitos escrúpulos"!

         Infelizmente constatamos isso diariamente ao observarmos o comportamento de um modo geral da população, mas principalmente de nossas autoridades que deveriam dar o exemplo e zelar pela ética no desempenho de suas funções. 

                São justamente essas ditas autoridades que praticam e seguem à risca a Lei de Gérson, obtendo vantagens de forma indiscriminada, passando por cima de questões éticas e morais.

                O caráter da população nacional não deve e não pode estar relacionado a estes comportamentos condenáveis.

                A descrença em uma mudança já dominou muita gente, mas ainda tenho a firme esperança que isto possa ser revertido, mesmo que seja a longo prazo.

                Ética, moral e escrúpulo, serão sempre bem-vindos!


Santos, 05 de dezembro de 2024.



sábado, 21 de setembro de 2024

PAURA






Olhar ameaçador!

Alguém em sã consciência já viu alguma pomba com olhar ameaçador?

Pois ele vê!

E não só em pomba. Vê este olhar em vários pequenos animais, desde mariposas e até numa inocente cigarra como uma que inadvertidamente teve o atrevimento de entrar em sua casa causando um alvoroço incrível.

Talvez uma conversa com terapeuta ajude a explicar os motivos de tanta paura.

Algumas lembranças de fatos da infância já corroboram para desvendar, ao menos em parte, o que desencadeia este comportamento exagerado em um adulto.

Com pouca idade ele via com certa frequência a funcionária da casa representar com as mãos e seus longos dedos, aranhas se deslocando sobre a mesa de forma assustadora em sua direção. Isto o fazia se afastar num átimo, aos atropelos.

Será que estes episódios desencadearam os temores por outros seres, mesmo que pequenos? Pode ser.

O fato é que cada contato acidental com animais tão menores que ele, resulta em atitudes inesperadas que provocam momentos muito hilários.

Atualmente são as pombas que têm caído pela chaminé, surgindo de maneira atabalhoada na sala.

Quando menos ele espera, o barulho do bater das asas seguido da visão de uma delas na lareira, já é sinal que vem confusão no pedaço.

Nem cogita a possibilidade de se aproximar para ajudá-la a encontrar a saída. Limita-se a abrir as janelas e rapidamente sai do ambiente, ficando de longe na torcida para que a inocente e atordoada pomba voe para longe.

Tem sido assim neste final de verão europeu.

Estou lembrando agora que a pomba é o símbolo da paz. Imagine se fosse o símbolo da guerra!

No exato momento que relato este fato está justamente acontecendo a visita de uma pomba, que segundo ele, tem olhares ameaçadores.

Ela está tranquilamente pousada sobre a TV, enquanto ele está fora da casa, espiando pela janela e torcendo para que o feroz animal vá embora.

Uma cena jocosa com gargalhadas garantidas.


Santos, 20 de setembro de 2024.


Ps: Um alerta a ele: está mais do que na hora de colocar a telinha

na chaminé, antes que entre uma ave de rapina.

Aí sim, teria motivos para correr.