Se você pensou em alguma história de suspense ou terror, errou!
Nada a ver com assassinos ou fantasmas.
Foram companheiros de quarto bem incomuns.
O perigo que poderiam provocar era causarem um grande susto e até uma gritaria em plena madrugada.
O chalé era muito gracioso e aconchegante. O jardim que o rodeava era bem cuidado, com árvores e flores em quantidade.
Na janela do quarto uma floreira carregada de gerânios dava um toque especial ao aposento.
Logo após o pôr do sol ela resolveu fechar as venezianas com receio que algum inseto entrasse voando no aposento.
Eis que no momento em que fazia isso uma andorinha desavisada e provavelmente com seu GPS desregulado, ao invés de se dirigir para seu ninho em alguma árvore, entrou voando rapidamente dentro do quarto.
Não havia forro no aposento. O madeiramento do telhado era bem alto, com caibros de aspecto rústico.A ave pousou em um deles e lá se acomodou.
Aí começou o drama: fazer com que ela saisse novamente pela janela.
Não surtiram efeitos os barulhos, gestos e lançamentos de objetos na direção da pequena ave.
Ela fazia acrobacias mil por todo o espaço e às vezes dava até umas rasantes que obrigavam o casal a se abaixar.
Foi quando ele resolveu jogar o paletó de seu pijama. A peça subia e caia e a ave continuava impávida, até que...
Até que o paletó enroscou em um caibro bem alto.
Aí a situação só se complicou. A andorinha saracoteava pelo quarto enquanto o pijama permanecia pendurado e em uma posição impossível de ser resgatado.
A estas alturas o sono já dominava o casal que se deu por vencido. Fechou a janela e desistiu de espantar a ave.
A solução foi se cobrirem até a cabeça para evitarem surpresas em plena madrugada. Adormeceram receosos de acordarem no meio da noite com algum míssil de fezes explodindo bem no rosto.
Na manhã seguinte acordaram e já se depararam com a avezinha toda lampeira e feliz após ter curtido uma noite diferenciada, revoando pelo espaço aéreo do quarto. Foi só abrir a janela e ela saiu num átimo em busca de seu café da manhã.
Ela chegou a ver um sorriso irônico no biquinho da andorinha.
Em tempo: o paletó do pijama foi posteriormente resgatado.
Mais recentemente um outro casal também teve uma companhia singular em seu quarto.
Hospedados em um local bem próximo à natureza, não contavam com um terceiro ser devidamente acomodado no cantinho da parede.
Na verdade foi visto de soslaio por ela, mas por estar sem óculos considerou que era simplesmente um daqueles objetos que chamamos de peso de porta.
O tal peso de porta era na verdade um gorducho sapo bem vivo que quietinho aproveitava o aconchego do quarto.
Na manhã seguinte foi reconhecido e recebeu a devida carta de despejo do aposento.
Ainda bem que nos dois casos não houve acidentes e nem gritarias em plena madrugada.
Foram companhias bem comportadas.
Santos, 1 de maio de 2025.