sexta-feira, 20 de março de 2015

APUROS COM A MARIPOSA




Um comentário feito numa rede social a respeito de uma mariposa, fez passar um filme em minha cabeça.
Não sou do tipo que morre de medo de insetos ou outros animais pequenos, haja vista que sou formada em Biologia.
Porém, não fico nem um pouco tranquila quando por perto algum inseto alado está fazendo acrobacias aéreas, nem sempre com senso de direção.
Basta pensar no voo de uma barata para me arrepiar e me encolher toda. Ela correndo no chão é uma situação, agora, ela voando como doida, aí é gritaria na certa.
Aliás já me disseram que eu não mato as baratas, mas que na verdade elas morrem sozinhas de enfarte fulminante tamanho o susto que levam com meus gritos.  Eu grito e bato, grito e bato, até o final da batalha. Talvez seja intriga da oposição, mas que elas morrem, morrem mesmo.
Em função dos trabalhos práticos de coletas de mosquinhas nas matas durante o curso de pós-graduação, vivenciei experiências que já relatei em outros contos, como a visita que recebi de um enorme gafanhoto passeando por dentro de minha calça jeans. 
No desespero ao senti-lo subindo por minha perna e pensando que pudesse ser escorpião ou até mesmo aranha, avisei minha amiga de coleta e ela própria acabou tirando minhas calças em plena mata, já que eu mesma estava constrangida em fazer isso no meio dos eucaliptos do horto florestal onde estávamos. 
Por sorte era um inofensivo gafanhoto. Pense em um gafanhoto grande, bem grande.  Já pensou?  Pois bem, aquele era maior ainda.  O maior que vi na vida.
 O coitado mais assustado do  que eu, havia enroscado suas patinhas na costura interna da calça. Assim que se livrou, saiu num voo estabanado a toda velocidade e sem tempo de dizer adeus, me deixando ali parada com as calças arriadas, mas aliviada.
A montagem do insetário (com mais de 300 exemplares)  proporcionou também muitos momentos de sustos seguidos de muitas gargalhadas, como a verdadeira luta que foi para coletar as ditas baratas (sempre elas) intactas, sem quebrar antenas ou patinhas. 
O caso da mariposa que lembrei acima, ocorreu quando já exercia o magistério.
Era uma noite muito quente e havia chovido na véspera. 
As luzes fluorescentes das salas de aula eram chamarizes para os insetos que entravam pelas janelas e se debatiam nas lâmpadas.  Eram na maioria besouros e mariposas pequenas.
Até que...  Até que uma enorme mariposa de corpo negro com muitas escamas (parecem pelos) e asas com desenhos amarelos e pretos, entrou toda estabanada dando rasantes sobre as cabeças dos alunos. 
Era classe de adultos de um curso técnico de eletrônica, formada na sua totalidade por homens.
Eu estava bem no meio de uma explanação sobre velocidade, espaço e tempo, com vários esquemas feitos na lousa. Movimentava-me de um lado para outro na frente da classe explicando os tais esquemas.
Conforme a mariposa se aproximava de algum aluno, ele somente dava um safanão com o caderno e continuava a olhar para a frente, na maior calma.
Com certeza eu era a única que estava preocupada, para não dizer apavorada, com as acrobacias da dita cuja.  Continuei a explanação mas nem piscava, só de olho na maldita.
Até que finalmente alguém a acertou de jeito e ela caiu no chão, no canto da sala e bem junto à parede da lousa.   E lá ela ficou quietinha, para minha alegria. 
Continuei a caminhar de um lado para o outro concluindo as explicações e numa das paradas, não percebi que meu pé esquerdo ficou muito próximo da mariposa.  A calça comprida era preta e de tecido fino; tinha a boca um pouco larga (era moda na época) e quase tocava o chão. 
De repente senti umas patinhas roçando em minha coxa.  
Gelei.
Olhei para o canto onde estava a tal mariposa e para meu desespero vi que ela havia sumido. Conclui no ato que ela havia subido por dentro da calça.
Procurei ficar impassível diante dos alunos.
Sem parar de falar, embora minha vontade fosse gritar e sair correndo, segurei-a por cima da calça e apertei o máximo que pude. Soltei logo em seguida e vi o corpo dela caindo ao lado de meu pé esquerdo. 
Afastei-me rápido e respirei aliviada. Não a havia matado mas com certeza ela não voaria tão cedo.
Controlei-me tanto que se algum aluno percebeu o que houve, não comentou nada, nem os que estava nas primeiras carteiras.
Assim que terminou a aula fui voando ao banheiro. Queria lavar a roupa por dentro pois estava enojada.  O tecido preto no avesso, brilhava com tantas escamas que haviam saído do corpo da mariposa.
Como eu disse no início, não morro de medo de insetos, principalmente daqueles que estão bem longe de mim!

Santos, 20 de março de 2015  

Saudades e gostosas lembranças de um ambiente tão amigo e acolhedor que encontrei na Organização Escolar Alem/Rio Claro.

6 comentários:

  1. O meu maior medo, tudo que tem pena, asas, pés bem feios, bico....
    pavor, atravesso a rua para fugir de uma pomba.......
    Beijos.

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  2. Nossa! Imagino o medo, ao ponto de atravessar a rua! Isso deve ter origem em alguma história da infância.
    Dizem que para vencer o medo, devemos enfrentá-lo.
    Eu prefiro não testar esta afirmação enfrentando alguma barata voadora...rsss
    Obrigada pela visita Clotilde.
    Beijo

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  3. Tempos bons aqueles no Alem...comigo foi pior...entrou um morcego grande durante uma das aulas e começou dar rasantes nas nossas cabeças...não pensei duas vezes...saí em disparada para o corredor enquanto os alunos se digladiavam com suas réguas, para ver que acertava o bichinho...só retornei depois de ver o Batman, esticado no chão...daí retomei minha aula e voltei a respirar...bjos amiga...amo seus contos...

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  4. Nossa!! Acho que se fosse morcego, eu não me seguraria não Iara.

    Bita véio, como diria minha mãe. Sairia correndo antes de todos....rss

    Dei risada com sua história, afinal acho que foi a primeira vez que o Batman foi colocado fora de combate...kkkk....e sem a ajuda do Pinguim...rss
    Obrigada pela visita ao blog e por seus comentários.
    Bjs

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  5. Vc é uma heroína, Ligia, aguentou muito bem essa mariposa por dentro da calça na sala de aula. Presenciei um acontecimento semelhante quando lecionava à noite, quando uma professora de inglês recebeu um voo rasante de uma mariposa e saiu correndo gritando e os alunos atrás, gritando tb. Foi o maior auê na escola. Nem é preciso dizer que as aulas foram para o espaço no resto daquela noite...

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  6. Heroína nada Terezinha. Eu não podia era dar vexame e demonstrar medo da mariposa já que era professora de Ciências....rss Obrigada pela visita ao blog.

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