domingo, 6 de outubro de 2013

AINDA HÁ ESPERANÇA PARA O MAGISTÉRIO?



Não é novidade que há muitos anos o magistério vem sendo ignorado por nossos governantes e que a baixa remuneração está afastando profissionais de gabarito das salas de aula. São justamente os verdadeiros educadores que partem em busca de outras colocações que valorizem e reconheçam suas capacidades.
Diretores de escola convivem com esta situação todos os dias. É um fato real e alarmante.
Vemos constrangidos que para suprir tais lacunas, muitas vezes há necessidade de se contratar candidatos que a despeito de serem portadores de diplomas universitários (em algumas regiões brasileiras nem isso costuma ocorrer), têm posturas totalmente incompatíveis com uma sala de aula repleta de crianças ou adolescentes.
As disciplinas pedagógicas foram trabalhadas de maneira totalmente equivocadas ou até mesmo, não fizeram parte de suas formações acadêmicas.
Atualmente o candidato a professor, antes de tudo, deseja saber o valor que receberá pelas aulas, para que possa fazer seus cálculos e verificar se não acabará pagando para trabalhar. Isto é perfeitamente compreensível.  Geralmente as escolas distantes e mal localizadas são as mais prejudicadas e estão sempre com o corpo docente incompleto.
Não há como deixar de comparar os tempos atuais com a situação que vivíamos há algumas décadas.  Íamos de trem, ônibus, caronas, a pé, mas todo sacrifício era compensado não somente em termos financeiros, mas também pelo retorno gratificante que recebíamos dos alunos e suas famílias.
Muitos lecionavam em escolas que ficavam em sítios ou fazendas distantes e a chegada do professor era sempre motivo de festa.
O receio que tínhamos naquela época, não era sermos surpreendidos por bandidos e marginais, mas sim, encontrarmos cobras ou outros animais peçonhentos que por ventura atravessassem as trilhas entre os canaviais, durante nosso percurso a pé, até a escola.
Anos mais tarde e já contando com a facilidade de transporte que o carro oferece, fui muitas vezes visitar escolas rurais acompanhando supervisores de ensino. 
Em uma destas visitas, meu senso de orientação espacial que é quase inexistente, deixou a mim e a uma colega, totalmente perdidas entre talhões e talhões (espécie de quarteirões) de cana-de-açúcar. Cada trilha que o velho fusquinha branco seguia, acabava num trecho sem saída. 
A tentativa de voltar ao prédio da escola e pedir ajuda também foi infrutífera já que não lembrávamos mais qual era o caminho. Sem bússola, sem GPS , sem celular e com o final do dia já se aproximando, estávamos quase certas que passaríamos a noite dentro do carro e rodeadas por cana.
Enquanto o carro ia e vinha pelas trilhas à procura de uma saída, minha colega rezava no banco do carona. 
Não sei se foram as rezas ou o destino, mas quando já estava quase noite, eis que um cavaleiro surgiu numa das curvas por trás dos pés de cana.   Não era nenhum príncipe em seu cavalo branco, mas foi saudado por nós como se o fosse. 
Muito atencioso e prestativo, foi cavalgando mansamente na frente do fusquinha até nos deixar na porteira da fazenda que dava acesso a uma estrada de terra que nos levaria até a rodovia principal.
Depois deste episódio, adquiri o hábito de fazer um mapa detalhado de cada trajeto até as escolas rurais, com direito a desenhos, esquemas, quantidade de mata-burros e porteiras a passar, tipos de árvores como referências e por aí afora.
A despeito de todas estas dificuldades, era muito, mas muito gratificante mesmo, ter contato com as crianças destas escolas rurais tão isoladas. Representavam o puro retrato da inocência e pureza e assim como suas famílias, valorizavam o trabalho do professor, fato que a maior parte de nossos políticos não faz nos dias atuais.
Será que o magistério voltará a ter num futuro, o respeito e consideração que merece por parte das autoridades municipais, estaduais ou federais? 
Sou bem cética quanto a isso!

Santos, 06 de outubro de 2013. 


Para Sônia, relembrando essa epopeia pelos lados rurais de Itirapina/SP.

Um comentário:

  1. Ao ler seu conto revivi momentos de minha longa caminhada no magistério, fiquei emocionada!
    Quanto aos seus mapas, eram famosos, tenho um deles até hoje.
    Continuo a trabalhar com crianças e pré-adolescentes, pois acredito na força de transformação da educação (apesar das adversidades) e gosto do magistério.
    Abraços.
    Graça.

    Transcrevi acima, o comentário recebido de Maria da Graça,

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