Não
é novidade que há muitos anos o magistério vem sendo ignorado por nossos governantes
e que a baixa remuneração está afastando profissionais de gabarito das salas de
aula. São justamente os verdadeiros educadores que partem em busca de outras
colocações que valorizem e reconheçam suas capacidades.
Diretores
de escola convivem com esta situação todos os dias. É um fato real e alarmante.
Vemos
constrangidos que para suprir tais lacunas, muitas vezes há necessidade de se contratar
candidatos que a despeito de serem portadores de diplomas universitários (em
algumas regiões brasileiras nem isso costuma ocorrer), têm posturas totalmente
incompatíveis com uma sala de aula repleta de crianças ou adolescentes.
As
disciplinas pedagógicas foram trabalhadas de maneira totalmente equivocadas ou
até mesmo, não fizeram parte de suas formações acadêmicas.
Atualmente
o candidato a professor, antes de tudo, deseja saber o valor que receberá pelas
aulas, para que possa fazer seus cálculos e verificar se não acabará pagando
para trabalhar. Isto é perfeitamente compreensível. Geralmente as escolas distantes e mal
localizadas são as mais prejudicadas e estão sempre com o corpo docente
incompleto.
Não
há como deixar de comparar os tempos atuais com a situação que vivíamos há algumas
décadas. Íamos de trem, ônibus, caronas,
a pé, mas todo sacrifício era compensado não somente em termos financeiros, mas
também pelo retorno gratificante que recebíamos dos alunos e suas famílias.
Muitos
lecionavam em escolas que ficavam em sítios ou fazendas distantes e a chegada
do professor era sempre motivo de festa.
O
receio que tínhamos naquela época, não era sermos surpreendidos por bandidos e
marginais, mas sim, encontrarmos cobras ou outros animais peçonhentos que por ventura
atravessassem as trilhas entre os canaviais, durante nosso percurso a pé, até a
escola.
Anos
mais tarde e já contando com a facilidade de transporte que o carro oferece, fui
muitas vezes visitar escolas rurais acompanhando supervisores de ensino.
Em
uma destas visitas, meu senso de orientação espacial que é quase inexistente, deixou
a mim e a uma colega, totalmente perdidas entre talhões e talhões (espécie de
quarteirões) de cana-de-açúcar. Cada trilha que o velho fusquinha branco
seguia, acabava num trecho sem saída.
A
tentativa de voltar ao prédio da escola e pedir ajuda também foi infrutífera já
que não lembrávamos mais qual era o caminho. Sem bússola, sem GPS , sem celular
e com o final do dia já se aproximando, estávamos quase certas que passaríamos
a noite dentro do carro e rodeadas por cana.
Enquanto
o carro ia e vinha pelas trilhas à procura de uma saída, minha colega rezava no
banco do carona.
Não
sei se foram as rezas ou o destino, mas quando já estava quase noite, eis que
um cavaleiro surgiu numa das curvas por trás dos pés de cana. Não era nenhum príncipe em seu cavalo branco,
mas foi saudado por nós como se o fosse.
Muito
atencioso e prestativo, foi cavalgando mansamente na frente do fusquinha até
nos deixar na porteira da fazenda que dava acesso a uma estrada de terra que
nos levaria até a rodovia principal.
Depois
deste episódio, adquiri o hábito de fazer um mapa detalhado de cada trajeto até
as escolas rurais, com direito a desenhos, esquemas, quantidade de mata-burros e
porteiras a passar, tipos de árvores como referências e por aí afora.
A
despeito de todas estas dificuldades, era muito, mas muito gratificante mesmo,
ter contato com as crianças destas escolas rurais tão isoladas. Representavam o
puro retrato da inocência e pureza e assim como suas famílias, valorizavam o
trabalho do professor, fato que a maior parte de nossos políticos não faz nos
dias atuais.
Será
que o magistério voltará a ter num futuro, o respeito e consideração que merece
por parte das autoridades municipais, estaduais ou federais?
Sou
bem cética quanto a isso!
Santos, 06 de outubro de 2013.
Para
Sônia, relembrando essa epopeia pelos lados rurais de Itirapina/SP.
Ao ler seu conto revivi momentos de minha longa caminhada no magistério, fiquei emocionada!
ResponderExcluirQuanto aos seus mapas, eram famosos, tenho um deles até hoje.
Continuo a trabalhar com crianças e pré-adolescentes, pois acredito na força de transformação da educação (apesar das adversidades) e gosto do magistério.
Abraços.
Graça.
Transcrevi acima, o comentário recebido de Maria da Graça,