Naquela época não havia ainda a
possibilidade de implantes dentários.
Uma vez perdidos os dentes
permanentes o único recurso para substituí-los era a colocação de uma prótese,
a chamada dentadura.
Entretanto,
por melhor que fosse o resultado, às vezes um ou outro imprevisto acontecia.
Pois não é
que justamente um destes lamentáveis imprevistos, aconteceu com ela? Durante um
almoço, uma mordida mais forte em um pedaço de carne dura e pronto, a parte inferior
da dentadura quebrou-se em duas.
Consultado
o protético veio o alívio: havia condições de se restaurar a peça
quebrada. O único senão é que ela
ficaria algumas horas sem os dentes.
Para não se
expor nestas condições, solicitou auxílio da filha caçula pedindo que levasse a
peça ao dentista e a trouxesse imediatamente após ser reparada. Neste meio tempo ela ficaria reclusa em casa
aguardando o serviço ser realizado.
A garota,
na casa de seus 7 anos aproveitou a ocasião para usar uma bolsinha nova de
ráfia branca que havia ganhado recentemente.
Era bem pequena mas comportava perfeitamente os dois pedaços da
dentadura a serem colados. O fecho era constituído por dois pinos que se
cruzavam fechando a boca da bolsa. A alça era feita com uma delicada corrente
que fazia todo seu charme.
A caminho
do protético a garota resolveu brincar com a tal bolsinha e se pôs a girá-la
nos dedos enquanto caminhava pelas ruas.
Girou,
girou e girou.
Girou tanto
que sem que ela percebesse os pinos se abriram e a dentadura foi projetada
para longe. A garota só se deu conta
disso ao chegar ao dentista e não encontrar mais aqueles dentes sorrindo dentro de sua
bolsa nova.
Voltou
acabrunhada para casa sem saber o que dizer para mãe, mas já esperando uma homérica
bronca.
Dito e
feito. Apesar do sol escaldante na
Cidade Azul naquele momento um temporal inesperado caiu pelos lados da rua
2.
Muito
difícil foi conter a vontade de rir que os irmãos mais velhos tiveram ao ouvir as cobras
e lagartos que a mãe dizia, já muito nervosa e sem os dentes. As palavras saiam
com sons diferentes e intercalados por assobios. Foi preciso segurar o riso pois realmente como se diz
hoje, o bicho estava pegando, embora com
certeza naquele instante, não pudesse morder.
Encerrada a
bronca, o problema persistiu.
Por onde
andaria a dentadura fujona?
Foi quando
os dois filhos mais velhos entraram na história convocados com a urgência que
a situação pedia, a refazerem o trajeto pelas ruas procurando em todos os
cantos, aqueles dentes que sorriam fora de uma boca.
A operação
teve início. A menina andava pelo canto da calçada enquanto o irmão andava próximo
à guia, olhando a sarjeta. Teriam que
cumprir a missão de resgate a qualquer preço e por isso vasculhavam todo e
qualquer pedacinho suspeito de papel para ver se não escondia a peça perdida.
Finalmente
após percorrerem algumas quadras, bem em frente a uma quitanda, o menino deu o
alerta.
Ao lado de
um caixote velho de madeira cheio de frutas já passadas do ponto, estava a
dentadura que alheia à sujeira e em cima de uma casca de banana sorria toda
feliz e satisfeita dando a impressão que havia acabado de engolir a fruta.
Por sorte
ela se comportara direitinho e não havia mordido nenhum calcanhar desavisado
que por ali passara.
Com a
missão cumprida a dupla voltou para casa a fim de apaziguar os ânimos, dar um
belo banho de espuma na fujona e novamente levá-la ao protético para a devida
colagem. Desta vez o passeio foi feito
sem percalços e com toda segurança possível.
Interessante
é que esta história inusitada e hilária da fuga, seguida de busca e apreensão
de uma dentadura, não podia ser comentada pelas crianças e quando o faziam era sempre com muita
reserva, pois mesmo com o passar do tempo o fato ainda despertava a ira da mãe
e isso acarretava risco iminente de um grande temporal, onde os raios caiam em
todas as cabeças, com ou sem para-raios.
Muito bom, Liginha!
ResponderExcluirÓtima, Lígia!!! Está tão bem escrita que parece que vivi a cena com "as crianças" do conto, rsrsrs.
ResponderExcluirBeijão
O difícil foi segurar a risada, ouvindo-a dar a bronca e as palavras saindo todas esquisitas por conta da falta de dentes.
ResponderExcluirNoooossa,.... foi bem "punk" ....kkkk
Ô situação tragicômica!!
ResponderExcluirapesar do drama que a dona da prótese ,o fato é muito hilário ainda mais descrito por você.
ResponderExcluirFoi mesmo uma situação tragicômica!!!!
ResponderExcluirUma tragedia pra uns é uma imensa comédia para outros….kkkk
Pena que não dá para saber quem postou mas agradeço a visita e o comentário no blog.
Kkkkkkkk!! Muito bom como sempre!!!
ResponderExcluirObrigada Iara Silvia! Vez ou outra me vem na memória estes momentos hilários vividos em família....rssss
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