domingo, 22 de julho de 2012

O EXAME


Nunca foi muito de ir a médicos, na verdade os evitou até a bem poucos anos.
Entretanto, como sói acontecer, o tempo passa e a máquina humana a exemplo da mecânica, necessita de revisões periódicas.
Procurando diagnosticar um problema surgido, o neurologista solicitou um exame com nome pomposo: eletromiografia. 
Exame agendado e com a guia de solicitação médica em mãos, lá se foi ela para a clínica a fim de solucionar um desconforto que havia surgido na face.
Sentada na sala de espera e não se sentindo muito confortável em função dos semblantes sérios e preocupados que via ao seu redor, decidiu ler uma revista de fofocas televisivas para tentar relaxar um pouco.
Passados alguns minutos, uma paciente saiu da sala de exames e acomodou-se no sofá ao seu lado. Uma conversa informal foi iniciada e a recém-chegada pôs se a contar as agruras que sofrera na realização do tal exame feito em seu antebraço.
 Contou que a dor havia sido muito forte. Explicou que foram usados eletrodos na forma de agulhas espetadas na parte afetada e sentira muitos choques. Logo a seguir, alguém chegou para vir buscá-la e na despedida ainda desejou melhor sorte à mais nova conhecida.
As informações que acabara de receber não foram nada animadoras. Teve que se controlar para literalmente não fugir dali naquele mesmo instante pois se a eletromiografia feita no antebraço havia doido tanto, o que diria feita na face, que era o seu caso!
Chegou a ficar em pé e enquanto decidia o que fazer, eis que a enfermeira abriu a porta da sala e falou seu nome. Tarde demais para fugir.  Resolveu encarar a situação.
Deitada na maca só pensava em acabar logo com aquilo enquanto via as preparações envolvendo eletrodos e agulhas. Pensava com toda convicção possível naquele momento: esse corpo não é meu! Esse corpo não me pertence!
E o sacrifício começou. 
Realmente, além das picadas das agulhas, pequenos choques eram dados na face esquerda.  Um, dois, três, quatro....Perdeu a conta de quantos foram.
O que tornava tudo mais dolorido ainda eram os locais das picadas em regiões extremamente sensíveis: nas pálpebras inferior e superior, lateral dos olhos e cantinho dos lábios.
Ela que não transpira facilmente, começou a sentir as palmas das mãos encharcadas, as costas também e até no rosto sentia um liquido escorrer pela pele. Secava as mãos suadas no brim da calça jeans enquanto torcia para que terminasse logo.
Finalmente acabou!
Meio atordoada pela dor, sentou-se na maca e ouviu o médico pedir que esperasse um pouco. Nesse momento ele se aproximou com um chumaço de algodão e começou a limpar seu rosto (o dela e não o dele, obviamente). 
Foi aí que ela levou um susto vendo manchas de sangue no algodão.  Aquele líquido que ela sentia escorrer na face, na realidade não era suor como pensara inicialmente e sim, sangue.
Terminada a limpeza ele a autorizou a descer da maca e comentou de maneira bem séria. 
- Como você sangra fácil!
Ainda atordoada pela dor e sentindo-se criticada, não se conteve, respondeu de pronto, sem raciocinar e falando de maneira um tanto áspera:
- Pois claro, eu não estou empalhada!!!  Fura meu rosto todo e não quer que eu sangre!!!
Retirou-se então rapidamente pois mesmo com dor, sentiu uma vontade enorme de cair na gargalhada ali mesmo, ao ver o olhar surpreso dele pela resposta recebida!
Decididamente ela não estava empalhada!

Santos, 22 de julho de 2012

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