Nunca foi muito de ir a médicos, na
verdade os evitou até a bem poucos anos.
Entretanto, como sói acontecer, o tempo passa e a máquina
humana a exemplo da mecânica, necessita de revisões periódicas.
Procurando diagnosticar um problema
surgido, o neurologista solicitou um exame com nome pomposo:
eletromiografia.
Exame agendado e com a guia de
solicitação médica em mãos, lá se foi ela para a clínica a fim de solucionar um
desconforto que havia surgido na face.
Sentada na sala de espera e não se
sentindo muito confortável em função dos semblantes sérios e preocupados que
via ao seu redor, decidiu ler uma revista de fofocas televisivas para tentar relaxar
um pouco.
Passados alguns minutos, uma
paciente saiu da sala de exames e acomodou-se no sofá ao seu lado. Uma conversa
informal foi iniciada e a recém-chegada pôs se a contar as agruras que sofrera
na realização do tal exame feito em seu antebraço.
Contou que a dor havia sido muito forte.
Explicou que foram usados eletrodos na forma de agulhas espetadas na parte
afetada e sentira muitos choques. Logo a seguir, alguém chegou para vir
buscá-la e na despedida ainda desejou melhor sorte à mais nova conhecida.
As informações que acabara de
receber não foram nada animadoras. Teve que se controlar para literalmente não
fugir dali naquele mesmo instante pois se a eletromiografia feita no antebraço
havia doido tanto, o que diria feita na face, que era o seu caso!
Chegou a ficar em pé e enquanto
decidia o que fazer, eis que a enfermeira abriu a porta da sala e falou seu
nome. Tarde demais para fugir. Resolveu
encarar a situação.
Deitada na maca só pensava em
acabar logo com aquilo enquanto via as preparações envolvendo eletrodos e
agulhas. Pensava com toda convicção possível naquele momento: esse corpo não é
meu! Esse corpo não me pertence!
E o sacrifício começou.
Realmente, além das picadas das
agulhas, pequenos choques eram dados na face esquerda. Um, dois, três, quatro....Perdeu a conta de
quantos foram.
O que tornava tudo mais dolorido
ainda eram os locais das picadas em regiões extremamente sensíveis: nas
pálpebras inferior e superior, lateral dos olhos e cantinho dos lábios.
Ela que não transpira facilmente,
começou a sentir as palmas das mãos encharcadas, as costas também e até no
rosto sentia um liquido escorrer pela pele. Secava as mãos suadas no brim da
calça jeans enquanto torcia para que terminasse logo.
Finalmente acabou!
Meio atordoada pela dor, sentou-se
na maca e ouviu o médico pedir que esperasse um pouco. Nesse momento ele se
aproximou com um chumaço de algodão e começou a limpar seu rosto (o dela e não
o dele, obviamente).
Foi aí que ela levou um susto vendo
manchas de sangue no algodão. Aquele
líquido que ela sentia escorrer na face, na realidade não era suor como pensara
inicialmente e sim, sangue.
Terminada a limpeza ele a autorizou
a descer da maca e comentou de maneira bem séria.
- Como você sangra fácil!
Ainda atordoada pela dor e
sentindo-se criticada, não se conteve, respondeu de pronto, sem raciocinar e
falando de maneira um tanto áspera:
- Pois claro, eu não estou empalhada!!! Fura meu rosto todo e não quer que eu sangre!!!
Retirou-se então rapidamente pois mesmo
com dor, sentiu uma vontade enorme de cair na gargalhada ali mesmo, ao ver o
olhar surpreso dele pela resposta recebida!
Decididamente ela não estava
empalhada!
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