sexta-feira, 8 de junho de 2012

A REUNIÃO SECRETA



Sua sala de trabalho era vizinha à outra sala onde ficavam várias pessoas; as portas bem próximas eram sempre mantidas abertas.
Sozinha e concentrada na elaboração de um relatório, ela teve a atenção interrompida por uma colega que lhe comunicava o fechamento da porta da sala vizinha. 
A justificativa para tal fato foi que tratariam de assuntos importantíssimos numa espécie de reunião secreta e que nada poderia chegar a ouvidos indiscretos de terceiros. 
Como ela era a única pessoa que se encontrava nas proximidades, considerou tal explicação deselegante e até ofensiva.
Entretanto, ao olhar para a porta recentemente fechada, viu que a chave fora esquecida para o lado de fora.  No mesmo instante uma ideia maléfica lhe veio à mente.
Levantou-se, caminhou em direção à porta, virou cuidadosamente a peça na fechadura e retirou-a sem fazer nenhum ruído.  Com a chave no bolso, resolveu parar seu trabalho e dirigir-se para a cozinha que ficava numa ala bem distante.
Para evitar algum problema sério, comunicou o fato a uma funcionária que trabalhava na portaria,  pedindo que lhe avisasse assim que a clausura fosse descoberta pelo grupo. 
Em poucos instantes todos os demais funcionários já sabiam do fato e ansiosos aguardavam o desfecho do caso.  A expectativa era grande uma vez que envolvia a sala que recebera o apelido de olimpo dos deuses.
Alguns minutos depois, seu cafezinho foi interrompido; a tal reunião secreta havia terminado e seus participantes se descobriram presos.
Enquanto a maior parte dos enclausurados encarou o fato com bom humor, alguns poucos, muito irritados, dirigiram-se para as janelas e puseram-se a gritar por ajuda.
Uma razoável plateia se formou e a cena hilária provocou muitos risos.
Gritos pedindo socorro ao mesmo tempo em que se observavam apenas mãos gesticulando entre os pequenos vãos das janelas basculantes da sala, algumas balançando lenços ou blusas para chamarem mais a atenção. 
A visão assemelhava-se a cenas de filmes com náufragos perdidos e acenando para algum navio distante.
Sem apressar o passo, calmamente, ela se aproximou e mostrando que a chave estava em seu poder, justificou sua atitude como um cuidado maior que tivera, contribuindo assim para que tudo fosse realmente o mais secreto possível. 
Esclareceu que com sua atitude precavida, ela evitou que a reunião fosse interrompida por alguém que chegasse. Ao mesmo tempo evitou o risco de serem perturbados por alguém do próprio grupo que decidisse sair da sala antes do final da reunião.  Afinal segredo é segredo!
Claro que a justificativa não foi bem assimilada por uns poucos, mas as risadas que a cena provocou foram suficientes para garantirem o bom humor para o resto da semana, não só o dela como também de todas as outras pessoas que assistiram de camarote.

Santos, 08 de junho de 2012  

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