sexta-feira, 18 de abril de 2025

CAMINHADA NA SEXTA-FEIRA SANTA

 



            Vamos fazer um passeio de ônibus?

            Recebi este convite irônico nesta Sexta-Feira Santa. Nem precisei responder.

            Por que irônico? Porque partiu de minha irmã que com certeza estava se lembrando, assim com eu já havia feito logo pela manhã, de um desastrado passeio feito neste dia santo, há aproximadamente 6 décadas.

            Vivíamos em Rio Claro no interior paulista e o slogan da administração municipal àquela época estimulava a visita à cidade. 

            Ouvia-se com frequência a frase: Conheça Rio Claro, a cidade que se expande dia a dia.

            Vivia-se um tempo muito diferente dos dias atuais. A Semana Santa era um período onde as diversões e prazeres, principalmente para os cristãos, eram deixados de lado em total respeito ao martírio e morte de Cristo.

            Em nossa casa a televisão e o rádio eram proibidos de serem ligados. Não programávamos passeios, jogos ou qualquer outra diversão que despertasse risos e consequentemente barulhos.

            O respeito pela data sempre foi priorizado e entendíamos isso.

            Em meados dos anos 60 eis que numa tarde de Sexta-Feira Santa o tédio irrompeu-se nas duas irmãs. Os pais dormiam e o irmão mais velho havia saido com amigos.

            Os ponteiros do relógio teimavam em girar demasiadamente lentos e a tarde se arrastava.

            Foi quando uma delas lembrou-se da frase: Conheça Rio Claro, a cidade que se expande dia a dia. 

            De imediato surgiu a ideia de passearmos de ônibus pelas ruas mais distantes de casa e por caminhos desconhecidos e não rotineiros. 

            Sugestão dada e aceita imediatamente.

            Com dinheiro para duas passagens dirigimo-nos até o ponto de õnibus onde havia linhas para vários bairros mais distantes.  Optamos por um que atendia bairros que não conhecíamos, afinal o objetivo era visitar a cidade.

            Acompanhamos curiosas o trajeto feito e que ficava justamente do lado oposto aos caminhos que costumávamos fazer para passeios, para irmos à escola, à igreja, casas de amigos, etc.

            De repente a aventura foi interrompida.

            O motorista parou o ônibus e avisou que ali era o ponto final. Todos teríamos que descer. Quem pretendesse continuar no transporte precisaria pagar nova passagem.

            Não tivemos outra opção a não ser sairmos do ônibus. Estávamos sem dinheiro para pagarmos a volta e o pior, nem sabíamos onde realmente estávamos.

            Resolvemos voltar a pé, única solução viável no momento. 

            Surgiu aí o primeiro fator complicador. Minha orientação espacial sempre foi avariada, para não dizer quase nula, e portanto, não sabia nem para qual lado ficava o centro da cidade. 

            Depois de perguntarmos a alguém e pensarmos um pouco, decidimos o caminho a seguir. 

            Logo após percorridas as primeiras quadras de regresso, eis que o tempo mudou de repente e uma chuva, a princípio leve, mas depois mais forte, começou a cair e assim permaneceu por um bom tempo.

            Quando finalmente avistamos prédios já conhecidos o ânimo voltou e aceleramos os passos.

            Chegamos em casa molhadas dos pés à cabeça e com uma canseira imensa.

            Para evitarmos broncas não contamos sobre o desastrado passeio. Nossos pais vieram a saber disso sómente tempos depois.

            De certa forma conhecemos mais a cidade do que pretendíamos, pois o percurso a pé nos permitiu ver com calma, ruas e avenidas existentes entre a Vila Martins e o inicio do Jardim Floridiana onde estávamos, e o centro da cidade onde morávamos. 

            A caminhada sob chuva de mais de 3 km em plena Sexta-Feira Santa nunca foi esquecida e se depender de mim, também jamais será repetida.


Santos, 18 de abril de 2025 / Sexta-Feira Santa.






segunda-feira, 7 de abril de 2025

TELEVISÃO

 



            Não sei se sou eu que ando exigente demais ou então ranzinza, mas o fato é que os poucos momentos nos quais ligo a TV  em canais abertos ou não, não consigo soltar das mãos o controle remoto. 

          Isto porque em poucos minutos olhando para um canal qualquer já me desinteresso pelo assunto e lá vou eu apertando o botão sem parar, até que vez ou outra algo me prenda a atenção. 

           Como sou cinéfila geralmente acabo optando por um filme apresentado em plataformas de streaming.

            Há pouco liguei o aparelho e a cena me trouxe de imediato a lembrança de meu pai. Vi na tela a figura conhecida de Galvão Bueno. Instintivamente já mudei o canal. Não tenho nada especificamente contra este profissional; apenas me cansei de seus comentários. 

            Tal fato lembrou meu pai pois ele tinha verdadeira antipatia por Galvão. Entretanto, por gostar de assistir futebol pela TV se deparava com um problema já que a maioria dos jogos tinha a apresentação e comentários sob a responsabilidade deste locutor. A solução encontrada pelo sr. Italo, meu pai, foi deixar a TV ligada só com a imagem do jogo e ouvir a transmissão pelo radio.

        Dizia ele que ficava meio conflitante já que o som era num rítmo inflamado, entusiasmado e a imagem na TV trazia cenas bem menos aceleradas. Mesmo assim, segundo ele, valia a pena.

         No meu caso específico fico à procura de filmes interessantes, sejam dramas, comédias ou mesmo documentários. Se na primeira vista já vejo cenas exibindo armas, violência, mortes, etc, já mudo em busca de outro. Já basta a realidade.

            Ultimamente procuro por histórias que me deixem leve, mais esperançosa, que despertem sorrisos ou mesmo algumas lágrimas, mas que tais lágrimas sejam provocadas por momentos onde os bons sentimentos falem mais alto e deem alento. 

            Dentre os filmes que já assisti várias vezes cito dois: 

Cinema Paradiso vi umas três vezes e fiquei emocionada em todas elas. Além da bela história nos traz a música de Ennio Morricone; e Meia Noite em Paris que tem uma apresentação leve, agradável, com belas imagens e fantástica viagem ao passado. 

            Creio que de certa forma o fundo nostálgico que pode ser observado no filme de Woody Allen (Meia Noite em Paris), mostra indiretamente, ou até mesmo diretamente, que o passado foi mais interessante que o presente.

            Porém, e sempre há um porém, atualmente há poucos filmes que ficam em nossas memórias como estes citados acima. A grande maioria visa a comercialização, as bilheterias concorridas, e a chamada sétima arte acaba esquecendo de ser arte.

            Neste contexto todo opto por filmes clássicos, produzidos em décadas passadas, mas que com certeza são atemporais.

            Quanto à TV aberta, raramente me lembro dela.


Santos, 7 de abril de 2025.