sexta-feira, 9 de setembro de 2022

NOSSAS MEMÓRIAS AFETIVAS

 

                                                                    Óleo sobre tela - Sandra de Pinho


Como é difícil, eu diria até quase impossível, não fazermos comparações entre os tempos atuais e os que vivemos há algumas décadas durante a infância, juventude e início da fase adulta.

Com certeza as mudanças em todos os sentidos sempre ocorreram e sempre ocorrerão; elas são necessárias para não ficarmos estagnados na mesmice.

A despeito de entender perfeitamente isso, confesso que tenho dificuldades em assimilar e simpatizar por exemplo com as músicas tipo funk, trap, rap, sertanejo pop, sertanejo universitário, etc.

O mesmo fato se dá com relação a outras manifestações artísticas como teatro na atualidade (algumas stand-up são lamentáveis) bem como certas pinturas abstratas demais para meu gosto.

Interessante que gosto e curto telas tipo expressionismo abstrato, cubismo e expressões geométricas como as telas de Mondrian. Ressalto aqui inclusive o trabalho muito bonito de uma amiga que foge das telas acadêmicas e consegue colocar em seus trabalhos sua expressividade maior através do jogo de cores e formas. (Sandra de Pinho*).

Foi lendo recentemente um texto de Leandro Karnal** que entendi um pouco esta resistência de minha parte, às mudanças bruscas deste século XXI.

Neste artigo que denominou ESSA EU CONHEÇO, ele cita Proust e recorda que nossas preferências dialogam com nossas memórias afetivas.

Ou seja, um cheiro de um alimento que adorávamos na infância, ao ser sentido, nos remete diretamente a esta fase da vida e a momentos alegres.

Com as artes também ocorrem fatos similares.  É comum ouvirmos (eu mesma falo) que as músicas de meu tempo eram muito mais bonitas que as atuais.  Com toda certeza as que mais aprecio são as que fizeram fundo musical em minha infância, adolescência e juventude. Isto também acontece por conta da memória afetiva de momentos significativos.

Faço, entretanto, uma ressalva sem querer idealizar o passado: não sou musicista e” malemal” brinco no teclado, mas em minha opinião, a poesia e o lirismo que havia nas letras e melodias das músicas “do meu tempo e dos tempos que me antecederam” eram mais elaboradas, mais criativas e envolventes.

Realmente os tempos são outros, o mundo mudou e o jovem tem sua própria identidade que manifesta da maneira como aprecia, como sente a vida, e não como a sentíamos há algumas décadas. Cada um em seu tempo.

Concluo pensamentos com a frase usada por Karnal ao final de seu texto:

“Fico à toa na vida, olhando a banda passar, pensando naquilo que era bom...Esperança para o futuro e alguma melancolia para hoje”. 

 

Santos, 09 de setembro de 2022

 

* Sandra de Pinho - Exposição TODAS AS CORES, em Galeria de Artes Braz Cubas, Centro de Cultura Patrícia Galvão - Santos - 2017. 



**Leandro Karnal – Crônica ESSA EU CONHEÇO, publicada no jornal O Estado de São  Paulo -31 de agosto de 2022.

6 comentários:

  1. Texto corretissimo!!! Faço minhas suas ponderações.
    PARABÉNS!!!

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  2. Muito obrigada Angela. Para mim a memória afetiva sempre fala mais alto. Agradeço a visita ao blog. Exclui meu comentário anterior pois saiu como anônimo.

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  3. Sem dúvida um texto maravilhoso, verdadeiro e mto significativo! PARABÉNS Liginha! Vc é brilhante!

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  4. Como disse, não é a questão de dizer que o passado era melhor, mas minhas memórias afetivas e as percepções de alguns tipos que chamam de arte em tempos atuais, valorizam cada vez mais o que vivemos há algumas décadas.

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