Ao
ver belas fotos clicadas por uma amiga recordei de imediato da antiga casa da
rua 2 em Rio Claro, onde na cozinha havia um grande fogão a lenha no canto da
parede e próximo à janela.
Era
coberto com ladrilhos vermelhos com traços verdes formando desenhos, aliás, os
mesmos encontrados no piso da cozinha.
Na copa era igual também apenas trocando a cor verde pela branca.
Ao
lado do fogão havia sempre uma pazinha e um tipo de vassoura italiana sem o
cabo, que eram usadas para ajeitar as cinzas que iam esparramando-se pela
abertura onde se colocava a lenha.
Sobre
o fogão havia 3 ou 4 bocas que quando não estavam em uso, eram fechadas por
placas de ferro.
Crianças
ainda sempre tivemos responsabilidades na casa como por exemplo, recolher todas noites as cadeiras de vime que ficavam
na área de entrada, auxiliar nas pequenas tarefas na cozinha e dentre estas,
uma em especial era destinada ao meu irmão.
Esta
tarefa consistia em limpar e retirar toda a cinza do fogão assim que ele
terminasse de ser usado. Isto deveria
ser feito com muito capricho e cuidado também pois a quentura às vezes ainda
persistia no ladrilhos.
Lembro-me
bem que ele fazia tal trabalho mas não gostava nem um pouco. Mesmo assim não o
liberavam desta obrigação.
Quando
nossa mãe engravidou da caçula tínhamos eu e ele, 6 e 7 anos respectivamente e
claro, nem desconfiávamos do que nos aguardava o futuro. Os tempos eram outros
e as crianças jamais participavam de conversas com adultos.
Seguindo
os costumes da época quando estava próximo ao nascimento, minha mãe achou por
bem nos reunir para tentar contar o fato de que ganharíamos um irmão ou uma irmã.
Àquelas
alturas meu irmão já havia visto dias antes na casa de um amigo vizinho, um
belo fogão a gás em plena atividade.
Ficara maravilhado com a praticidade.
Lembro-me
de estarmos sentados na cama ouvindo minha mãe fazendo a pergunta que tanto
havia ensaiado:
-
Vocês querem ganhar um irmãozinho?
Enquanto
eu me alegrava já pensando em uma menina para brincar, meu irmão foi mais
rápido e soltou a frase:
-
Não! Eu prefiro ganhar um fogão a gás.
Silêncio
geral. Os adultos não esperavam que ele
tivesse tanta urgência de se livrar do fogão a lenha.
Com
certeza uma cegonha não aguentaria trazer pendurado no bico, um belo fogão.
A
reação de minha mãe foi rir mas tal fato acabou virando piada na família.
Ainda
na infância quando havia qualquer entrevero que envolvesse a caçula, logo
ouvia-se o comentário dele isentando-se de qualquer problema ou culpa,
afirmando peremptoriamente que seu pedido tinha sido fogão a gás e não irmã.
Portanto os demais que resolvessem a questão.
Não
me lembro exatamente quanto tempo depois deste fato realmente meu pai comprou o bendito fogão a gás, mas creio que
foi logo após o nascimento da menina.
A
verdade é que por um bom tempo e ainda até hoje às vezes e em tom de
brincadeira, chamamos a irmã caçula de fogão.
A
cabeça de uma criança é realmente uma caixinha de surpresas!
Santos,
29 de julho de 2021
Para Maria Eliza Aily por me
proporcionar esta viagem ao túnel do
tempo com suas fotos e para Tutu, a caçula que quase foi permutada por fogão a
gás.
Ligia , a descrição do fogão é tão " perfeita " que parece que o estou vendo na cozinha da sua casa , onde , por quatro anos , ficávamos muitas noites estudando . Deu saudade !
ResponderExcluirQue lembrança gostosa Cris! Geralmente éramos em 4: eu, você, Lígia Wetten e Verinha. Às vezes o Chico tbm ia. Outras noites eram na casa da outra Lígia W. bem como a montagem do esqueleto de galo foi na casa da Verinha. Nossa, que época boa!!!!! Beijão e obrigada pela visita ao blog!
ResponderExcluircomo sempre você nos leva a recordar fatos de sua infância com uma leveza e humor inigualáveis. Parabéns
ResponderExcluirObrigada por suas palavras e pela visita ao blog!
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