Relendo alguns poemas deparei-me
com um intitulado “Máscara” *.
Embora escrito há alguns anos e num contexto
diferente de fatos ocorridos nos dias atuais, o texto me levou a pensar sobre o
bom e o mau uso de disfarces na face.
Nestes tempos de máscaras e
manifestações, o carnaval chegou trazendo consigo batalhões de novos mascarados
que em blocos, tomaram as ruas e avenidas do país ao som de muita música e
alegria. As máscaras pretas dos manifestantes foram substituídas, ao menos
neste período, pelas coloridas máscaras carnavalescas.
Interessante como as pessoas mudam
o comportamento, positiva ou negativamente, quando escondem o rosto.
Na verdade com a face oculta, o ser
humano manifesta o que verdadeiramente tem em seu interior. É justamente quando
mais se revela, mais expõe suas vontades, pensamentos e emoções, alegrias ou
revoltas. Sem identidade ele não tem receio de julgamentos que possam fazer
sobre si.
O não reconhecimento pelos outros
gera tal liberdade de ação que libera o mascarado a adotar posturas que com a
face descoberta, dificilmente adotaria. Com rosto disfarçado o autocontrole lhe
parece totalmente desnecessário.
De cara limpa, como se costuma
dizer, é muito mais difícil praticar atos que fujam aos padrões tidos como
normais pela sociedade. Para isso é
preciso coragem.
Pensando nesta identidade escondida
e amordaçada que pode existir no íntimo do ser humano, ocorreu-me também a
presença de outro tipo de disfarce que não espera o carnaval e nem as manifestações
populares para ser usado.
São as máscaras invisíveis que
muitas pessoas vestem toda manhã quando acordam e as mantém o tempo todo no
rosto.
Algumas pessoas a usam como
disfarce de uma infelicidade perene; exibem então um constante sorriso ensaiado
que não tem origem naquela alegria espontânea.
São pessoas de almas tristes, que compreensivamente querem ocultar tal
fato e até mesmo evitar que isto tenha reflexo junto à família ou amigos.
Há também em contrapartida, muita
gente de caráter duvidoso que usa tal máscara invisível para aparentar o que
não é verdadeiramente e neste caso, a falsidade é a autora de um roteiro
teatral. Às vezes o ator se descuida e deixa a máscara cair no meio do ato, em
pleno palco.
Em tempos de máscaras e mascarados,
que bom seria (embora muito improvável) se a coragem da cara limpa prevalecesse
nos manifestantes e que encontrássemos pelas ruas, somente as tradicionais
máscaras carnavalescas, onde um sorrisão aberto e contagiante provocasse na
hora outro sorriso como resposta, mas este, surgindo em nossa própria face.
Santos, 6 de março de 2014
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