quinta-feira, 6 de março de 2014

MÁSCARAS E MASCARADOS



Relendo alguns poemas deparei-me com um intitulado “Máscara” *.
 Embora escrito há alguns anos e num contexto diferente de fatos ocorridos nos dias atuais, o texto me levou a pensar sobre o bom e o mau uso de disfarces na face.
Nestes tempos de máscaras e manifestações, o carnaval chegou trazendo consigo batalhões de novos mascarados que em blocos, tomaram as ruas e avenidas do país ao som de muita música e alegria. As máscaras pretas dos manifestantes foram substituídas, ao menos neste período, pelas coloridas máscaras carnavalescas.
Interessante como as pessoas mudam o comportamento, positiva ou negativamente, quando escondem o rosto. 
Na verdade com a face oculta, o ser humano manifesta o que verdadeiramente tem em seu interior. É justamente quando mais se revela, mais expõe suas vontades, pensamentos e emoções, alegrias ou revoltas. Sem identidade ele não tem receio de julgamentos que possam fazer sobre si.
O não reconhecimento pelos outros gera tal liberdade de ação que libera o mascarado a adotar posturas que com a face descoberta, dificilmente adotaria. Com rosto disfarçado o autocontrole lhe parece totalmente desnecessário.
De cara limpa, como se costuma dizer, é muito mais difícil praticar atos que fujam aos padrões tidos como normais pela sociedade.  Para isso é preciso coragem.
Pensando nesta identidade escondida e amordaçada que pode existir no íntimo do ser humano, ocorreu-me também a presença de outro tipo de disfarce que não espera o carnaval e nem as manifestações populares para ser usado.
São as máscaras invisíveis que muitas pessoas vestem toda manhã quando acordam e as mantém o tempo todo no rosto. 
Algumas pessoas a usam como disfarce de uma infelicidade perene; exibem então um constante sorriso ensaiado que não tem origem naquela alegria espontânea.  São pessoas de almas tristes, que compreensivamente querem ocultar tal fato e até mesmo evitar que isto tenha reflexo junto à família ou amigos.
Há também em contrapartida, muita gente de caráter duvidoso que usa tal máscara invisível para aparentar o que não é verdadeiramente e neste caso, a falsidade é a autora de um roteiro teatral. Às vezes o ator se descuida e deixa a máscara cair no meio do ato, em pleno palco.
Em tempos de máscaras e mascarados, que bom seria (embora muito improvável) se a coragem da cara limpa prevalecesse nos manifestantes e que encontrássemos pelas ruas, somente as tradicionais máscaras carnavalescas, onde um sorrisão aberto e contagiante provocasse na hora outro sorriso como resposta, mas este, surgindo em nossa própria face.


Santos, 6 de março de 2014  


Nenhum comentário:

Postar um comentário