Mais um dia dos pais se aproxima.
Independente de ser uma figura
sempre lembrada, nesta época parece que as emoções ficam mais à flor da pele.
Impossível ver um comercial na TV, propagandas
em lojas, mensagens na internet, sem que nossos pensamentos se direcionem ao
nosso pai.
As primeiras imagens dele que me vêm
à mente, é vê-lo organizando seus papéis em pastas (nossa, como ele tinha
pastas!), etiquetando caixas, colando objetos, trabalhando em alguma nova
invenção nem sempre útil e fazendo anotações em suas agendas. Aliás, ele tinha
agendas de todos os tipos e tamanhos.
Interessante que mesmo muito antes
da linguagem internetês existir, era
possível ler em sua agenda lembretes como, por exemplo: cortar kbelo, ou então, comprei
kfé. Setembro ele anotava assim: 7mbro.
Muito criança ainda, uma de minhas
brincadeiras era imitar sua profissão de representante comercial, inventando clientes
e fornecedores. Lembro-me que utilizava
nestes momentos, suas já usadas cadernetas quilométricas de viagem da antiga Companhia
Paulista de Estradas de Ferro. Eu achava meu pai importante por ter essa
caderneta que trazia a foto dele e anotações das viagens feitas.
Um pouco mais crescida, minhas
brincadeiras já eram na rua com a criançada da vizinhança. Nesta fase já comecei a sentir mais sua
autoridade e reserva, pois não sentia muita facilidade e liberdade para dele me
aproximar.
Foi na adolescência que sua
presença de certa forma, começou a causar em muitos momentos, mais receios do
que qualquer outro tipo de sentimento.
Ainda hoje me lembro da dificuldade
que era obter seu consentimento para aos domingos, ir ao cinema com amigas, aos
14, 15 anos de idade.
Se o pedido fosse feito no início
da semana, a resposta que eu até já sabia de cor seria:
- Ainda há muita água para passar sob a ponte.
Caso contrário, se o pedido fosse
feito no sábado, a resposta seria:
- De última hora não costumo
decidir coisas!
Resultado, nada de cinema com
amigas. Acabei desistindo de pedir-lhe e
passei a ir somente com autorização de minha mãe, que como se dizia, “segurava
a barra” por mim.
Estes tipos de atitudes acabaram
reforçando certo distanciamento dos filhos em relação a ele, pois havia sempre
o receio de uma bronca inesperada e muitas vezes, não merecida.
Já adulta, comecei a entendê-lo
melhor e descobrir que por baixo daquela armadura invisível que ele vestia,
havia alguém que se importava com a família, com amigos, mas que tinha grandes dificuldades
em manifestar isto através dos gestos tão comuns, como um abraço ou até um simples
aperto de mãos.
Pude vê-lo emocionado pouquíssimas
vezes e mesmo assim, de maneira bem contida.
Talvez, nestas poucas ocasiões, já vendo os filhos adultos, sentiu-se um
pouco mais seguro para extravasar sentimentos trancados no peito durante anos.
Interessante que fora do âmbito
familiar, ele era divertido com amigos, contador de piadas e ria com muita facilidade.
A armadura que vestia era na
verdade sua proteção, sua maneira de não demonstrar emoções e desta forma,
manter o que ele entendia ser sua autoridade de pai e de chefe de família. Esta minha interpretação se reforçou com a chegada dos netos, com os quais seu
comportamento foi bem diferente do que teve com os filhos.
Aprendi a respeitá-lo e a temê-lo
desde a infância.
Somente na fase adulta é que pude compreendê-lo melhor e admirá-lo
mais ainda após sua partida, ao saber de atitudes elogiáveis que tomou e não
contou nem mesmo aos beneficiados.
Este era o Sr. Italo, meu pai.
Esteja onde estiver, desejo-lhe um
FELIZ DIA DOS PAIS!
Eu ainda acho que as invenções dele eram super úteis, embora a estética da coisa, esta sim, pudesse ser questionada! rsrsrs
ResponderExcluirAh, e se ainda me lembro, cabelo era ainda mais abreviado: "kblo", escrito com pincel atômico no calendário em caprichadas e serifadas letras.
É mesmo Nando, ele abreviava novembro como 9 MBRO e dezembro como 10 MBRO.
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ResponderExcluirLembro-me muito bem dele, até eu tinha certo receio dele. Eu sondava a sua casa e a loja, se ele aparecia eu nem perguntava sobre voce, para brincarmos, só quando sua mãe aparecia rs rs.
ResponderExcluirMas ele, na época, fez a "cabeça" da meninada e quase todos torciam pelo Velo e pelo Corinthians.
É verdade mesmo Lucinda, ele fazia a maior propaganda do Velo e do Corínthians.
ResponderExcluirMinha mãe sempre "quebrando os galhos" da gente...rsss
Abração e obrigada pela visita e pelos comentários!