sábado, 10 de agosto de 2013

SENHOR ITALO



Mais um dia dos pais se aproxima.
Independente de ser uma figura sempre lembrada, nesta época parece que as emoções ficam mais à flor da pele.
Impossível ver um comercial na TV, propagandas em lojas, mensagens na internet, sem que nossos pensamentos se direcionem ao nosso pai.
As primeiras imagens dele que me vêm à mente, é vê-lo organizando seus papéis em pastas (nossa, como ele tinha pastas!), etiquetando caixas, colando objetos, trabalhando em alguma nova invenção nem sempre útil e fazendo anotações em suas agendas. Aliás, ele tinha agendas de todos os tipos e tamanhos.
Interessante que mesmo muito antes da linguagem internetês existir, era possível ler em sua agenda lembretes como, por exemplo: cortar kbelo, ou então, comprei kfé. Setembro ele anotava assim: 7mbro.
Muito criança ainda, uma de minhas brincadeiras era imitar sua profissão de representante comercial, inventando clientes e fornecedores.  Lembro-me que utilizava nestes momentos, suas já usadas cadernetas quilométricas de viagem da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Eu achava meu pai importante por ter essa caderneta que trazia a foto dele e anotações das viagens feitas.
Um pouco mais crescida, minhas brincadeiras já eram na rua com a criançada da vizinhança.  Nesta fase já comecei a sentir mais sua autoridade e reserva, pois não sentia muita facilidade e liberdade para dele me aproximar. 
Foi na adolescência que sua presença de certa forma, começou a causar em muitos momentos, mais receios do que qualquer outro tipo de sentimento.
Ainda hoje me lembro da dificuldade que era obter seu consentimento para aos domingos, ir ao cinema com amigas, aos 14, 15 anos de idade.
Se o pedido fosse feito no início da semana, a resposta que eu até já sabia de cor seria:
 - Ainda há muita água para passar sob a ponte. 
Caso contrário, se o pedido fosse feito no sábado, a resposta seria:
- De última hora não costumo decidir coisas!
Resultado, nada de cinema com amigas.  Acabei desistindo de pedir-lhe e passei a ir somente com autorização de minha mãe, que como se dizia, “segurava a barra” por mim.
Estes tipos de atitudes acabaram reforçando certo distanciamento dos filhos em relação a ele, pois havia sempre o receio de uma bronca inesperada e muitas vezes, não merecida.
Já adulta, comecei a entendê-lo melhor e descobrir que por baixo daquela armadura invisível que ele vestia, havia alguém que se importava com a família, com amigos, mas que tinha grandes dificuldades em manifestar isto através dos gestos tão comuns, como um abraço ou até um simples aperto de mãos.   
Pude vê-lo emocionado pouquíssimas vezes e mesmo assim, de maneira bem contida.  Talvez, nestas poucas ocasiões, já vendo os filhos adultos, sentiu-se um pouco mais seguro para extravasar sentimentos trancados no peito durante anos.
Interessante que fora do âmbito familiar, ele era divertido com amigos, contador de piadas e ria com muita facilidade.
A armadura que vestia era na verdade sua proteção, sua maneira de não demonstrar emoções e desta forma, manter o que ele entendia ser sua autoridade de pai e de chefe de família. Esta minha interpretação se reforçou com a chegada dos netos, com os quais seu comportamento foi bem diferente do que teve com os filhos.
Aprendi a respeitá-lo e a temê-lo desde a infância. 
Somente na fase adulta é que pude compreendê-lo melhor e admirá-lo mais ainda após sua partida, ao saber de atitudes elogiáveis que tomou e não contou nem mesmo aos beneficiados.  
Este era o Sr. Italo, meu pai.
Esteja onde estiver, desejo-lhe um FELIZ DIA DOS PAIS!

Santos, 10 de agosto de 2013  (Véspera do Dia dos Pais)


5 comentários:

  1. Eu ainda acho que as invenções dele eram super úteis, embora a estética da coisa, esta sim, pudesse ser questionada! rsrsrs

    Ah, e se ainda me lembro, cabelo era ainda mais abreviado: "kblo", escrito com pincel atômico no calendário em caprichadas e serifadas letras.

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    1. É mesmo Nando, ele abreviava novembro como 9 MBRO e dezembro como 10 MBRO.

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  2. Lembro-me muito bem dele, até eu tinha certo receio dele. Eu sondava a sua casa e a loja, se ele aparecia eu nem perguntava sobre voce, para brincarmos, só quando sua mãe aparecia rs rs.
    Mas ele, na época, fez a "cabeça" da meninada e quase todos torciam pelo Velo e pelo Corinthians.

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  3. É verdade mesmo Lucinda, ele fazia a maior propaganda do Velo e do Corínthians.
    Minha mãe sempre "quebrando os galhos" da gente...rsss
    Abração e obrigada pela visita e pelos comentários!

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