quinta-feira, 25 de setembro de 2025

ATO DE CORAGEM

        




        Quando o assunto é cozinhar geralmente não dou muito palpite, já que é uma tarefa que faço sem grandes aptidões. Faço com carinho, capricho e na maior parte das vezes quando invento de preparar algo mais elaborado, acabo tendo sucesso e sempre seguindo à risca uma receita. Confesso entretanto, ser uma atividade que não domino. 

        Por este motivo sempre que me disponho a pilotar o fogão, procuro ser cuidadosa e prestar muita atenção ao que faço. Um momento no qual tenho mais precaução é o instante de usar a panela de pressão.

        Cresci ouvindo falar do perigo que ela representa na cozinha e este receio aliado a casos ocorridos com pessoas conhecidas,  me fazem ficar mais atenta ainda.

        Recentemente conversando com uma amiga, tomei conhecimento de sua desavença com a famosa panela.

        Por motivos a serem esclarecidos o utensílio ainda com pouco uso, resolveu repentinamente fazer um barulho diferente, assustador e na sequência, mostrando que não estava para brincadeiras, começou a eliminar parte de seu conteúdo. 

     Diante daquela situação ameaçadora as duas cozinheiras presentes desligaram rapidamente o fogo e correram para fora da cozinha. Como se fosse cena de um desenho animado ficaram atrás da porta, com as pernas bambas, olhos arregalados e só espiando a fúria da panela.

         É bom que se esclareça que uma das cozinheiras já tinha know how da situação quando presenciou há tempos uma explosão violenta deste equipamento. Portanto, o pavor dela foi instantâneo.

        Após alguns momentos de pura cólera a panela foi se acalmando aos poucos até silenciar, mas somente depois de provocar uma imensa sujeira por todos os lados.

        Provavelmente tal objeto estava estressado e a maneira que encontrou de se vingar foi ter este chilique pondo as duas mulheres em fuga.

        O veredito ainda não foi divulgado, mas graças a Deus não houve consequências mais sérias além da grande sujeira provocada.

        Ao ouvir entre risos este relato, no mesmo instante lembrei-me de outro fato semelhante ocorrido há anos com uma outra amiga.

      Preparando o almoço no fogão que ficava no rancho dos fundos da casa, acabou deixando a tal panela de pressão trabalhando a todo vapor sozinha sobre o fogão. 

        A cobertura do local era de telhas de amianto.

        "De repente, não mais que de repente"* como já disse o poeta Vinícius, ouviu-se em toda a região uma explosão que mais parecia a queda de um meteoro na casa.

        Mais uma vez a mão de Deus permitiu que ninguém estivesse por perto.

        Passado o susto e a gritaria, minha amiga foi pé ante pé até o rancho verificar o que de fato havia acontecido.

        Encontrou um ambiente pós guerra.

        A parte superior do fogão havia afundado até o forno, as grelhas totalmente disformes e a panela destroçada e arreganhada.

        A comida se espalhou por todos os lados.

        Limpando todo o local da sujeira, foi notado que a tampa da panela havia sumido.

        Bastou olhar para cima e ver um rombo enorme nas telhas de amianto que ficavam sobre o fogão.

        A tampa àquelas alturas devia estar orbitando em torno da Terra.

        Tudo arrumado, almoço cancelado e vida que segue.

    No dia seguinte após a "queda do meteoro", eis que a vizinha da casa ao lado surgiu segurando o que restara da tampa da panela de pressão.

        A dita cuja tampa depois de orbitar na atmosfera, havia aterrissado sobre a goiabeira do quintal da casa ao lado.

        Realmente cozinhar utitlizando a panela de pressão constitui-se em ato de coragem.


Santos, 24 de setembro de 2025

Para as amigas Maria Sueli e Maria Lygia, com os agradecimentos pelas risadas ao ouvir os fatos.

* Poema: Soneto de Separação - Vinícius de Moraes..










sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Eu e o cinto de segurança

     





    Não há dúvida quanto à necessidade e importância do uso obrigatório do cinto de segurança durante qualquer deslocamento em veículos sejam, automóveis, ônibus de viagem, transporte escolar, táxis, carros de aplicativos, vans, etc.

    Não discordo de seu uso em momento algum, mas realmente eu e ele temos uma incompatibilidade constante.

    Como tenho pouca altura uso o banco posicionado bem para frente, assim como o encosto do referido banco. Resultado: o cinto passa justamente sobre meu pescoço, fato que incomoda demais. 

    Para sanar este problema passei a usar um tipo de proteção com um pouco de espuma que protege a pele do meu pescoço contra o atrito com o tecido do cinto.

    Mesmo antes do uso deste acessório tornar-se obrigatório eu já fazia uso quando em viagens a passeio ou a trabalho.

    Foi justamente por ocasião de uma dessas situações que ocorreu o primeiro incidente.

    Éramos quatro profissionais e eu ocupava um local no banco traseiro. 

    O carro não era muito novo e era dirigido por sua proprietária. 

    Deslocávamos na chamada Serra de Corumbataí para participarmos de reunião com professores em uma cidade vizinha.

    Foi quando resolvi colocar o cinto de segurança que se encaixou perfeitamente.

    Chegamos ao destino bem em cima do horário marcado para o início dos trabalhos.

    Sendo assim, mal a motorista desligou o veículo e todas suas ocupantes já desceram apressadas.

    Todas não!!!!!

    Eu fiquei presa no carro!

    Não consegui destravar o cinto. 

    Foi quando notei que ele estava enferrujado e provavelmente essa era a causa do problema. 

    Minhas companheiras ao me verem literalmente lutando com o cinto, voltaram para o carro com o objetivo de me ajudarem. 

    Nenhuma tentativa surtia efeito e a estas alturas, as risadas para não dizer gargalhadas, atrapalhavam mais ainda. 

    Tentei escorregar por baixo do cinto, mas não deu certo. 

    Uma amiga ajoelhou-se no chão do carro para ter melhor visão do problema, mas também não teve êxito em me soltar.

    O diretor da escola que de longe via toda a confusão e sabendo a causa, veio em meu auxílio com uma tesoura na mão.

    Por sorte, antes de cortar o cinto, fiz um movimento mais brusco e consegui me libertar.

    Não preciso dizer que na viagem de volta nenhuma das ocupantes do carro se atreveu a colocar o tal cinto de segurança.

    Recentemente fui a São Paulo de ônibus e embarquei sem maiores problemas.

    Antes de começar a viagem resolvi colocar o bendito acessório que realmente é necessário.

    No banco ao meu lado estava sentado um rapaz um pouco acima do peso.

    E foi aí que começou meu sofrimento.

    Por mais que eu tentasse não conseguia encaixar e fechar a fivela do cinto mesmo porque  mal conseguia vê-la já que parte do corpo do rapaz tampava minha visão do local.

    Embora o ar condicionado estivesse relativamente fresco dentro do veículo, eu já estava suando de tanto tentar sem sucesso abotoar o bendito cinto.

    Foi quando ouvi um..CRECK

    Isso deu-me um grande alívio!

    Aquele barulhinho foi como um bálsamo para mim. 

    Recompus-me e já preparava para relaxar quando o companheiro do banco ao lado virou-se para mim e disse:

    - A senhora acabou de soltar meu cinto!

    Olhei para ele incrédula e já rindo muito.

    O tal CRECK que ouvira fora justamente o cinto do rapaz sendo aberto.

    Foi nesse momento que ele se levantou e  pude ver que a ponta que correspondia ao meu acessório estava justamente sob o corpo dele.

    Aproveitei o momento que ele estava em pé para então fechar meu cinto de segurança, fato que ele também fez com o dele assim que se acomodou novamente no banco. 

    Realmente eu e os tais cintos de segurança temos uma visível incompatibilidade.


Santos, 12 de setembro de 2025

Para as companheiras de viagem até Itirapina (SP) e em especial para Lázara (in memoriam) que até se ajoelhou no chão do carro na tentativa de me ajudar.