Quando o assunto é cozinhar geralmente não dou muito palpite, já que é uma tarefa que faço sem grandes aptidões. Faço com carinho, capricho e na maior parte das vezes quando invento de preparar algo mais elaborado, acabo tendo sucesso e sempre seguindo à risca uma receita. Confesso entretanto, ser uma atividade que não domino.
Por este motivo sempre que me disponho a pilotar o fogão, procuro ser cuidadosa e prestar muita atenção ao que faço. Um momento no qual tenho mais precaução é o instante de usar a panela de pressão.
Cresci ouvindo falar do perigo que ela representa na cozinha e este receio aliado a casos ocorridos com pessoas conhecidas, me fazem ficar mais atenta ainda.
Recentemente conversando com uma amiga, tomei conhecimento de sua desavença com a famosa panela.
Por motivos a serem esclarecidos o utensílio ainda com pouco uso, resolveu repentinamente fazer um barulho diferente, assustador e na sequência, mostrando que não estava para brincadeiras, começou a eliminar parte de seu conteúdo.
Diante daquela situação ameaçadora as duas cozinheiras presentes desligaram rapidamente o fogo e correram para fora da cozinha. Como se fosse cena de um desenho animado ficaram atrás da porta, com as pernas bambas, olhos arregalados e só espiando a fúria da panela.
É bom que se esclareça que uma das cozinheiras já tinha know how da situação quando presenciou há tempos uma explosão violenta deste equipamento. Portanto, o pavor dela foi instantâneo.
Após alguns momentos de pura cólera a panela foi se acalmando aos poucos até silenciar, mas somente depois de provocar uma imensa sujeira por todos os lados.
Provavelmente tal objeto estava estressado e a maneira que encontrou de se vingar foi ter este chilique pondo as duas mulheres em fuga.
O veredito ainda não foi divulgado, mas graças a Deus não houve consequências mais sérias além da grande sujeira provocada.
Ao ouvir entre risos este relato, no mesmo instante lembrei-me de outro fato semelhante ocorrido há anos com uma outra amiga.
Preparando o almoço no fogão que ficava no rancho dos fundos da casa, acabou deixando a tal panela de pressão trabalhando a todo vapor sozinha sobre o fogão.
A cobertura do local era de telhas de amianto.
"De repente, não mais que de repente"* como já disse o poeta Vinícius, ouviu-se em toda a região uma explosão que mais parecia a queda de um meteoro na casa.
Mais uma vez a mão de Deus permitiu que ninguém estivesse por perto.
Passado o susto e a gritaria, minha amiga foi pé ante pé até o rancho verificar o que de fato havia acontecido.
Encontrou um ambiente pós guerra.
A parte superior do fogão havia afundado até o forno, as grelhas totalmente disformes e a panela destroçada e arreganhada.
A comida se espalhou por todos os lados.
Limpando todo o local da sujeira, foi notado que a tampa da panela havia sumido.
Bastou olhar para cima e ver um rombo enorme nas telhas de amianto que ficavam sobre o fogão.
A tampa àquelas alturas devia estar orbitando em torno da Terra.
Tudo arrumado, almoço cancelado e vida que segue.
No dia seguinte após a "queda do meteoro", eis que a vizinha da casa ao lado surgiu segurando o que restara da tampa da panela de pressão.
A dita cuja tampa depois de orbitar na atmosfera, havia aterrissado sobre a goiabeira do quintal da casa ao lado.
Realmente cozinhar utitlizando a panela de pressão constitui-se em ato de coragem.
Santos, 24 de setembro de 2025
Para as amigas Maria Sueli e Maria Lygia, com os agradecimentos pelas risadas ao ouvir os fatos.
* Poema: Soneto de Separação - Vinícius de Moraes..