Ouvindo a mídia falar sobre esta festa popular, vendo fantasias expostas nas lojas e escutando músicas carnavalescas, o baú das boas lembranças se abre e um verdadeiro desfile de fatos vêm em minha mente.
A recordação mais antiga que tenho é uma fantasia de holandesa que usei em um carnaval nos meus 4 ou 5 anos. O chapéu típico não parava em minha cabeça.
Os pensamentos seguintes já trazem a figura de meu avô paterno, Adolpho. Ele frequentava o Grupo Ginástico Rio-clarense, clube social da cidade.
Nas matinês de carnaval levava os netos mais velhos para brincarem no salão que ainda funcionava na esquina da avenida 3 com rua 2.
Também nos comprava os inesquecíveis tubos dourados de lança-perfumes juntamente com pacotes de confete e os rolinhos de serpentina.
Infelizmente o mau uso do lança-perfume por parte dos adultos, acabou provocando seu banimento.
Avô Adolpho não entrava no salão e de longe ficava observando nossa alegria. Soube anos mais tarde que ele gostava muito dos bailes quando era solteiro, mas depois do casamento nunca mais foi. No carnaval divertia-se vendo a alegria dos netos.
À noite havia o chamado corso que era o desfile de carros alegóricos e das escolas de samba.
Nessas ocasiôes eram meus pais que entravam em cena, nos levando para assistir.
Minha mãe, caprichosa que era, costurava sacolinha de tule para mim e meu irmão colocarmos confetes e serpentinas e jogarmos durante o corso. E lá íamos nós empolgados e carregando a tal sacolinha cheia.
O desfile era na região central da cidade e costumávamos ficar na esquina da rua 3 com avenida 1. Isso era bom para nós crianças pois havia neste local uma casa com jardim e uma muretinha com gradil. Ficávamos em pé nesta muretinha e assim tínhamos uma visão plena do desfile.
Particularmente o que mais me atraia a atenção eram os carros alegóricos dos clubes, sempre muito iluminados, enfeitados, com moças bonitas fantasiadas e músicas bem alegres.
Voltávamos para casa com a sacolinha de tule vazia, mas com o coração repleto de alegria.
Havia próximo de casa uma loja que alugava vestidos de noiva e aí morava uma amiga, Lucinda, sobrinha dos proprietários. Nesta época de carnaval a loja confeccionava adereços para as escolas de samba.
Eu, já na pré-adolescência, fui muitas vezes ajudar neste trabalho que na verdade para mim era muito prazeroso. Montávamos os chapéus com enfeites, as coroas, colares, etc.
Certa ocasião a dona da loja, dona Rizolina, ao saber que eu não iria nas matinês naquele ano por problemas familiares, fez às pressas uma fantasia para que eu pudesse acompanhar sua sobrinha. Lá fomos nós, Lucinda de Rainha da Lua e eu de Colombina. Nos levaram até a um estúdio fotográfico para registrar esse momento. Acho que dona Rizolina nunca soube o quanto fez minha mãe feliz com este gesto.
Com o tempo isso foi se perdendo, assim como as idas nas matinês e a companhia dos pais para ver o corso carnavalesco.
Como é imperativo à vida, vieram as mudanças nesta festa e em nós mesmos.
As antigas marchinhas deram lugar a diferentes rítmos de acordo com a preferência dos jovens de hoje; o carnaval de rua sofisticou-se e hoje é um verdadeiro show de riqueza e cores, mas que de certa forma afastou o povo pois tudo isso tem um custo que boa parte da população não pode assumir.
Ainda restam os alegres blocos formados pelos bairros, por clubes ou entidades, que dão voz e vez a todos.
Apesar de eu não ter mais grande atração pelo carnaval, as marchinhas antigas, ah...essas sim, estão guardadas para sempre na memória e cantaroladas nestes dias de festas carnavalescas.
Bom carnaval ou bom descanso a todos!