Óleo sobre tela - Sandra de Pinho
Como
é difícil, eu diria até quase impossível, não fazermos comparações entre os
tempos atuais e os que vivemos há algumas décadas durante a infância, juventude
e início da fase adulta.
Com
certeza as mudanças em todos os sentidos sempre ocorreram e sempre ocorrerão;
elas são necessárias para não ficarmos estagnados na mesmice.
A
despeito de entender perfeitamente isso, confesso que tenho dificuldades em
assimilar e simpatizar por exemplo com as músicas tipo funk, trap, rap,
sertanejo pop, sertanejo universitário, etc.
O
mesmo fato se dá com relação a outras manifestações artísticas como teatro na
atualidade (algumas stand-up são lamentáveis) bem como certas pinturas
abstratas demais para meu gosto.
Interessante
que gosto e curto telas tipo expressionismo abstrato, cubismo e expressões
geométricas como as telas de Mondrian. Ressalto aqui inclusive o trabalho muito
bonito de uma amiga que foge das telas acadêmicas e consegue colocar em seus
trabalhos sua expressividade maior através do jogo de cores e formas. (Sandra
de Pinho*).
Foi
lendo recentemente um texto de Leandro Karnal** que entendi um pouco esta
resistência de minha parte, às mudanças bruscas deste século XXI.
Neste
artigo que denominou ESSA EU CONHEÇO, ele cita Proust e recorda que nossas
preferências dialogam com nossas memórias afetivas.
Ou
seja, um cheiro de um alimento que adorávamos na infância, ao ser sentido, nos
remete diretamente a esta fase da vida e a momentos alegres.
Com
as artes também ocorrem fatos similares.
É comum ouvirmos (eu mesma falo) que as músicas de meu tempo eram muito mais
bonitas que as atuais. Com toda certeza
as que mais aprecio são as que fizeram fundo musical em minha infância, adolescência
e juventude. Isto também acontece por conta da memória afetiva de momentos significativos.
Faço,
entretanto, uma ressalva sem querer idealizar o passado: não sou musicista e”
malemal” brinco no teclado, mas em minha opinião, a poesia e o lirismo que
havia nas letras e melodias das músicas “do meu tempo e dos tempos que me
antecederam” eram mais elaboradas, mais criativas e envolventes.
Realmente
os tempos são outros, o mundo mudou e o jovem tem sua própria identidade que
manifesta da maneira como aprecia, como sente a vida, e não como a sentíamos há
algumas décadas. Cada um em seu tempo.
Concluo
pensamentos com a frase usada por Karnal ao final de seu texto:
“Fico
à toa na vida, olhando a banda passar, pensando naquilo que era bom...Esperança
para o futuro e alguma melancolia para hoje”.
Santos,
09 de setembro de 2022
* Sandra de Pinho - Exposição TODAS AS CORES, em Galeria de Artes Braz Cubas, Centro de Cultura Patrícia Galvão - Santos - 2017.
**Leandro Karnal – Crônica ESSA EU CONHEÇO, publicada no jornal O Estado de São Paulo -31 de agosto de 2022.