terça-feira, 11 de outubro de 2016

O PESADELO




Filmes de terror???
Ela queria distância deles. Não se atrevia a assistir nenhum.
Quando ocasionalmente havia uma cena deste estilo no filme que estava vendo, fechava os olhos ou tampava-os deixando só uma pequena fresta entre os dedos  que se fechava quando o ritmo da música ficava mais apavorante.
No entender dela, e no meu também, é impossível ter um sono tranquilo e repousante depois de levar sustos e mais sustos diante das telas da TV ou cinema.
Há porém quem goste muito destas fortes emoções e não perdem oportunidade de assisti-las.
Acontece que coincidência ou não, na hora de dormir os fantasmas aparecem nos sonhos e aí o que era para ser descanso e repouso, vira o tal pesadelo.
Foi provavelmente isto que aconteceu naquela viagem.
Tudo transcorria dentro da normalidade. Estrada boa,  ônibus bem confortável, passageiros sossegados e cochilando naquele final de tarde e início de noite.
Olhou ao redor e concluiu que talvez só ela e o motorista estavam acordados.
De repente, "não mais que de repente"* como dizia Vinícius de Moraes, a companheira do banco ao lado que aparentemente dormia  bem tranquila, começou a se agitar e dizer palavras sem nexo.  Preocupada, aproximou-se da amiga e ficou atenta. 
Os murmúrios aos poucos passaram a gemidos mais altos ao mesmo tempo em que o corpo se contraia.
Notando que a amiga deveria estar sonhando com algo ruim, resolveu acordá-la antes que os gemidos se transformassem em gritos e acordassem todos os passageiros.
Delicadamente apoiou cada mão sobre os ombros da jovem e chamou-a pelo nome por duas vezes seguidas. Ao chamá-la pela terceira vez com a voz mais elevada, viu com espanto que sua companheira encarou-a de uma forma assustadora, com olhos esbugalhados, ao mesmo tempo em que soltava um grito apavorante.
Levou um susto tão grande que a fez recuar o corpo rapidamente, acabando por bater a cabeça no vidro da janela do ônibus, provocando um ruído surdo.
Enquanto ela própria se refazia do espanto e da pancada na cabeça, a jovem ao seu lado agora desperta, respirava ofegante tentando explicar que havia tido um pesadelo horrível.   
Nem era necessário justificar nada pois pela intensidade do berro, deduzia-se que no mínimo ela tinha estado com o próprio capeta.
Foi difícil conter a gargalhada e ao mesmo tempo ser solidária com a amiga que ainda assustada com os maus sonhos, se recompunha no assento ao lado sem se atrever a olhar ao redor.
Neste mês em que se comemora o Dia das Bruxas, com certeza os fãs destes tipos de filmes estarão acumulando bastante informações para novos e tenebrosos pesadelos. E aí, haja gritos no meio da noite!
Decididamente como dizem os jovens de hoje,  eu "tô fora"!


Santos, 11 de outubro de 2016.


*  Soneto de Separação - Vinícius de Moraes

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