Filmes de terror???
Ela queria distância
deles. Não se atrevia a assistir nenhum.
Quando ocasionalmente havia
uma cena deste estilo no filme que estava vendo, fechava os olhos ou tampava-os
deixando só uma pequena fresta entre os dedos que se fechava quando o ritmo da música ficava mais apavorante.
No entender dela, e no
meu também, é impossível ter um sono tranquilo e repousante depois de levar
sustos e mais sustos diante das telas da TV ou cinema.
Há porém quem goste
muito destas fortes emoções e não perdem oportunidade de assisti-las.
Acontece que coincidência
ou não, na hora de dormir os fantasmas aparecem nos sonhos e aí o que era para
ser descanso e repouso, vira o tal pesadelo.
Foi provavelmente isto
que aconteceu naquela viagem.
Tudo transcorria dentro
da normalidade. Estrada boa, ônibus bem
confortável, passageiros sossegados e cochilando naquele final de tarde e
início de noite.
Olhou ao redor e concluiu
que talvez só ela e o motorista estavam acordados.
De repente, "não
mais que de repente"* como dizia Vinícius de Moraes, a companheira do banco
ao lado que aparentemente dormia bem
tranquila, começou a se agitar e dizer palavras sem nexo. Preocupada, aproximou-se da amiga e ficou atenta.
Os murmúrios aos poucos
passaram a gemidos mais altos ao mesmo tempo em que o corpo se contraia.
Notando que a amiga
deveria estar sonhando com algo ruim, resolveu acordá-la antes que os gemidos
se transformassem em gritos e acordassem todos os passageiros.
Delicadamente apoiou cada
mão sobre os ombros da jovem e chamou-a pelo nome por duas vezes seguidas. Ao
chamá-la pela terceira vez com a voz mais elevada, viu com espanto que sua
companheira encarou-a de uma forma assustadora, com olhos esbugalhados, ao
mesmo tempo em que soltava um grito apavorante.
Levou um susto tão
grande que a fez recuar o corpo rapidamente, acabando por bater a cabeça no
vidro da janela do ônibus, provocando um ruído surdo.
Enquanto ela própria se
refazia do espanto e da pancada na cabeça, a jovem ao seu lado agora desperta,
respirava ofegante tentando explicar que havia tido um pesadelo horrível.
Nem era necessário
justificar nada pois pela intensidade do berro, deduzia-se que no mínimo ela
tinha estado com o próprio capeta.
Foi difícil conter a
gargalhada e ao mesmo tempo ser solidária com a amiga que ainda assustada com os
maus sonhos, se recompunha no assento ao lado sem se atrever a olhar ao redor.
Neste mês em que se comemora
o Dia das Bruxas, com certeza os fãs destes tipos de filmes estarão acumulando
bastante informações para novos e tenebrosos pesadelos. E aí, haja gritos no
meio da noite!
Decididamente como dizem
os jovens de hoje, eu "tô fora"!
* Soneto de Separação - Vinícius de Moraes
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