segunda-feira, 18 de março de 2013

EU VI



Apesar dos anos que já passaram, vez ou outra a cena lhe vem à mente e quando se dá conta, está rindo sozinha.
O cenário era velho conhecido seu – a rua em que morou desde seu nascimento. Sabia bem como era cada pedacinho dela, mas mesmo assim a jovem gostava de ficar admirando-a nos momentos de dolce far niente. Era justamente isso que fazia na manhã daquele domingo ensolarado.
Eis que de repente entre os carros que transitavam, viu surgir bem rente à sarjeta, uma bicicleta vermelha.  Sobre ela, um garoto todo sorridente mantinha os pés apenas apoiados nos pedais.  Apesar da razoável velocidade que desenvolvia, ele não fazia o mínimo esforço pois seu pai que corria na extremidade da calçada, empurrava-o com sua mão esquerda apoiada nas costas do menino, enquanto em sua mão direita, carregava uma louça e uma caixa de jogos.
Vinham embalados e rindo com a brincadeira até que o pai errou um passo. 
Seu pé esquerdo pisou fora da calçada desequilibrando-o.
O tombo que se seguiu foi inevitável e particularmente acrobático.
A caixa de jogos e a louça foram lançadas para o alto.  O jogo era War com grande quantidade de pecinhas coloridas, que subiram muito alto para depois caírem num festival de cores esparramadas pela calçada e asfalto.  A louça não teve melhor sorte e encontrou seu finado dia naquele instante, partindo-se em vários pedaços.
Ajoelhado no chão, atônito e ainda abobalhado pelo tombo, o pai olhou à sua volta para ver se alguém mais além do filho, ria daquela cena. Viu que uma senhora que estava no portão bem em frente não demonstrava nenhuma reação, quer fosse de riso, susto ou mesmo preocupação.  Assim ela permaneceu enquanto ele recolhia pacienciosamente, cada peça do jogo.  Provavelmente a senhora dormia em pé ou algum problema na visão a impediu de curtir a cena desastrada de malabarismo.
Aliviado e concluindo que ninguém além do filho havia testemunhado sua situação vexatória, olhou mais à frente e deparou-se com a jovem em pleno acesso de riso, vendo-o ajoelhado na calçada juntando os pedaços que sobraram da louça (que nem era sua) e catando as “trocentas” peças do War, jogo com o qual, diga-se de passagem, ele detestava brincar.
A performance do pseudo-atleta teve um final triunfal com direito até a malabarismo trapalhão.

Santos, 18 de março de 2013   


Obs: Eu vi e não me esqueço, sr. Edo.

2 comentários:

  1. rsss... coitado dele, dificil deve ter sido recolher aquele monte de peças! Mas é estranho mesmo como antigamente se ria dos tombos alheios... e não era por maldade não! Pura criancisse mesmo, eu acho.
    Joguei muito War e como era razoavelmente caro, fizemos nosso jogo: cartolina por baixo com o Mapa, os países coloridos. Papel manteiga por cima com o contorno em Nankin de todos os paíse. Botões de camisa coloridos para cada exército, dados, etc. Pode imaginar, Ligia, como o jogo criou mais emoção, mais empolgação... fomos nós que fizemos! rsss. Lindo conto, Ligia... de novo me fez voltar a um passado alegre demais!

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  2. Pois é Mainha. Ficou ajoelhado na calçada um tempão catando cada pecinha. Até hoje não seguro o riso vendo estas cenas de tombos sem gravidade, inclusive os meus próprios..rs. Ajudo a pessoa, vejo se não se feriu mas a risada me acompanha e tenho até que me desculpar.

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