Ambiente de trabalho é local onde além
da qualificação profissional, deve haver também muita responsabilidade,
atenção, educação e respeito.
A somatória desses fatores todos,
muitas vezes acaba criando uma atmosfera séria, circunspecta, tolhendo gestos de descontração.
Não era diferente em meu local de
trabalho. O chefe, pessoa muito competente e um tanto autoritária, dificilmente
exibia um sorriso em sua face. Tal fato acabou desencadeando a fama de ser muito
severo. Em função disso, muitos de seus subordinados
tinham certo temor até em lhe dirigir a palavra.
Esse clima sério, que a despeito de
propiciar o bom andamento do serviço tornando-o ágil, gerava certa inquietação.
Sempre acreditei que era possível desempenhar bem uma função sem deixar de lado
o bom humor. Aliás, muitas vezes o bom humor até melhora o rendimento.
Na sala de trabalho ocorriam alguns
momentos de boas risadas sempre que surgia a possibilidade.
Certa ocasião foi designada uma professora
até então desconhecida, para ser minha auxiliar.
Notando seu nervosismo inicial, resolvi
criar uma situação que a deixasse mais calma, mais descontraída. Resolvi dar certo
tratamento de choque para quebrar o gelo.
Lembrei-me que no fundo da gaveta
havia um grande frasco de vidro contendo centenas de clips de papel, a maioria
dos quais enferrujados. Com a expressão
muito séria coloquei o tal vidro na frente da auxiliar e justificando a necessidade
de se evitar desperdício de material, mandei que a professora abrisse cada
peça, passasse bom-bril ao longo dela para tirar a ferrugem e finalmente a fechasse
direitinho para ser reutilizada.
O olhar de espanto e a paralisação
total da auxiliar foram instantâneos.
Creio mesmo que ela entrou por
alguns segundos, num estado de coma traumático. Nesse instante acabei deixando
a risada escapar, o que foi bom para evitar que um enfarte ou coisa desse tipo
acontecesse. Esse foi seu batismo.
Com o passar dos dias fui
percebendo que a professora era muito espirituosa e tinha facilidade para soltar frases irônicas muito
apropriadas e hilárias.
Foi assim que numa certa manhã ela
recebeu a incumbência diretamente do temido chefe, de datilografar (nessa época
as máquinas de datilografia reinavam soberanas) um importante documento em três
vias. Em função da urgência, ele
posicionou-se em pé ao lado da mesa aguardando o serviço ser realizado.
Nervosa, já que não era muito ágil
nesse trabalho, ela começou a suar principalmente nas mãos. Enquanto arrumava
os papéis para colocá-los na máquina, o carbono preto em contato com o suor
começou a soltar tinta e sujar não só suas mãos, como também as folhas brancas.
Com o chefe muito sério em pé a seu
lado, impávido, querendo pressa no serviço e vendo toda aquela trapalhada até
para colocar os papéis na máquina, a professora parou tudo o que estava
fazendo, apoiou a papelada sobre a mesa, colocou as mãos na cintura, suspirou
bem fundo e dirigindo-se a ele afirmou:
- Senhor! Não trabalho sob pressão!
Levei um susto ouvindo isso mas
logo veio o alívio. Diante do inesperado desabafo de minha auxiliar, algo um
tanto raro aconteceu: o chefe riu descontraído da situação e retirou-se imediatamente
para sua sala avisando que lá ficaria à espera do material.
De outra feita, numa tarde já no
final do expediente, conversávamos um assunto divertido, uma piada para ser
mais exata, quando de repente eis que o chefe entra inesperadamente na sala. Distraídas com o assunto, não ouvimos seus
conhecidos passos no corredor. De pronto
a conversa parou e ele obviamente notando isso, questionou com certo sorriso
irônico, se estava nos atrapalhando.
- Atrapalhou sim. A partir de amanhã o senhor venha
trabalhar com sapatos de salto alto.
Foi a resposta rápida e divertida de minha auxiliar que novamente conseguiu provocar muito riso no semblante tão fechado do chefe.
Realmente o poeta Vinícius* sabia o
que dizia quando escreveu:
“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração...”
Santos, 09 de setembro de 2012
Nota: Uma homenagem à Rosmari e às
lembranças de um tempo muito bom.
*Samba da Bênção” – Vinícius de
Moraes e Baden Powell
Iniciando a leitura já vislumbrava a tal pessoa. Fui rindo o tempo todo e ao final confirmado era mesmo a Rosmari. Muito bom, bons tempos.
ResponderExcluirPois é, vc que conhece bem essa figuraça, responsável e espirituosíssima, pode imaginar como ri nesse período em que trabalhamos juntas. Quantos casos!!!
ResponderExcluirQdo a encontrar, peça que lhe conte o primeiro dia em que ela e família foram ao então recém-inaugurado Restaurante Rainha do Mar. Estou lembrando agora e rindo sozinha.
Obrigada pela visita e pelo comentário!
Adorei, Lígia! Você está cada vez melhor! bjsss
ResponderExcluirObrigada Selma, pela visita e por suas palavras.
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