segunda-feira, 5 de setembro de 2011

MODERNIDADE VERSUS CAIPIRICE


Uma convocação diferente surgiu naquela semana.
Deveria estar no sábado pela manhã em São Paulo, para assistir uma palestra sobre Ensino à Distância. 
A princípio não curtiu muito por ser em pleno sábado porem animou-se com o local, no começo da Av. Paulista, já que poderia passear um pouco pelas redondezas depois da palestra.
Endereço anotado e trajeto até o local devidamente estudado, mal o sol apareceu e lá foi ela de ônibus com destino à Capital.
Conhecia um pouco o local bem como a estação de metrô onde deveria descer.
Fez o percurso sem maiores problemas até que chegou ao endereço determinado.
A princípio achou o prédio muito bonito e ousado. Ficava numa esquina e se destacava dentre os outros da vizinhança.  Era o prédio do Itaú Cultural próximo ao metrô Paraíso.
Olhou atentamente o edifício e contornou-o várias vezes procurando a porta de entrada. Nesse seu vai-e-vem observou que entre as pedras da calçada, havia algumas fotos em preto e branco trazendo cenas e pessoas ligadas à cultura brasileira. 
Achou a idéia muito feliz e enquanto se deslocava de um lado para o outro procurando como entrar, teve o máximo cuidado em não pisar sobre tais fotos.  Notou através dos vidros algumas pessoas já no interior do prédio e isso a deixou mais intrigada e perguntando-se por onde essas pessoas haviam entrado.
Após alguns bons minutos chegaram dois rapazes, pisaram sobre uma das fotos (fato que ela considerou de imediato, uma falta de respeito) e para seu espanto, milagrosamente uma porta se abriu. Nesse momento riu de si mesma. Havia se deslocado várias vezes na calçada e sempre pulando as fotos. Sua atitude que julgava ser um sinal de grande respeito, na verdade tinha sido uma grande burrice, para não falar caipirice mesmo.
O primeiro obstáculo estava vencido.  Com as anotações em mãos dirigiu-se ao elevador justamente com duas jovens cujas conversas a fez deduzir que se dirigiam para a mesma sala. Nem se preocupou em saber o andar uma vez que as companheiras de subida já haviam acionado o botão necessário.
Mais uma etapa cumprida e lá estava aguardando o início dos trabalhos durante o qual anotou atentamente todas as orientações repassadas. 
Ao final da palestra foi anunciado que na sequência outro assunto seria abordado, assunto esse que já não dizia respeito às atividades normais de seu trabalho, fugindo totalmente ao seu interesse.  Como já se aproximava o final da manhã resolveu retirar-se.
Desta vez entrou sozinha no elevador e foi ao painel procurar o botão T ou 1 que a levasse ao piso térreo.
Surpresa! 
Não havia números no painel.  Encontrou uma série de nomes de personalidades ligadas à cultura. Cada pavimento tinha um nome próprio. Decidiu apertar o que ficava abaixo de todos julgando ser o térreo.  Quando a porta do elevador abriu, viu-se numa garagem.
Resolveu apertar outro botão um pouco acima e novamente ficou surpresa pois estava provavelmente no 3º ou 4º andar. Saiu pelo corredor procurando alguém que lhe ajudasse mas não havia viva alma circulando por eles já que era um sábado.
A essas alturas e apesar do sufoco, ria sozinha pois inicialmente não conseguia entrar no prédio e agora não conseguia sair e estava fazendo um verdadeiro tour pelos andares do edifício.
Começou a apertar um por um cada botão do painel até que finalmente numa dessas tentativas ao abrir-se a porta do elevador, viu através dos vidros do prédio, carros circulando na rua.  Finalmente havia chegado ao térreo.  
Antes que alguma outra surpresa surgisse, tratou de sair correndo do elevador e do edifício. Já na calçada respirou aliviada. Chegara a pensar que passaria o final de semana subindo e descendo de elevador, presa no prédio do Itaú.
Decididamente há uma grande incompatibilidade entre ela e certas modernidades.

Santos, 05 de setembro de 2011  

Um comentário:

  1. Oiê!!! Sempre dou muita risada com suas histórias. Acho que foi com voce esse caso né? Lembrei das piadas nas reuniões...kk
    Saudades e parabéns, voce escreve muito bem!
    bjs

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